noite perdida

A noite estava perdida, não sabia como se encontrar, vagueava sem destino enquanto a lua austera piscava o olho com ar vaidoso. A noite procurava o amor, que tinha cozido à sua sombra há tanto tempo e com tantas linhas. O amor astuto passou anos a tentar livrar-se das linhas e finalmente tinha conseguido. E agora a noite tinha perdido as estrelas e a gravidade flutuante de todas as coisas havia desaparecido. Só um silêncio-toupeira, vindo do mais fundo da terra cercava todos os monte e vales que a noite percorrera vezes sem fim, cozida ao amor por linhas invisíveis. Só agora sentia no seu vazio de estrelas a plena certeza de que qualquer encruzilhada era mortífera sem amor. Iria encontrá-lo, talvez um dia, mergulhado noutra claridade que não a lua que os havia iluminado, num charco de água ou em qualquer outro lugar. E para uma noite perdida que não se conseguia achar só restava ver o sol raiar e voltar para a toca até um novo amanhecer. Apenas mais um no rol dos dias, embrutecido pela falta do calor e da volúpia do amor, cozido ao sonho e à noite por linhas tão ténues que acabaram por ser quebrar na quebradiça roda viva da vida.

Comentários

Fátima disse…
regresso da ninfa! andava pela noite ;p