Há mais peixes no mar

A resposta veio em tom displicente. O corpo bamboleando ao som das palavras que tilintavam como as pulseiras. O olhar frio e sarcástico. Há mais peixes no mar. Bem podes nadar para outro lado. Naquela altura ele queria nadar na mesma direcção que ela. Não tardou muito que cedesse a uma dança e quando deu por si já dançava nesse mar. Ele não passava de um pescador com redes enormes de frases feitas. Caiu na rede e nas frases, enquanto tentava colocar vírgulas que a impedissem de cair no insidioso plano dos apaixonados. Estava tão habituada a dar cartas e pontos finais. Mas o pescador é que dava a linha e ela nem percebia. No fim também foi ele que perdeu. Não restava muito para eles. o pescador prometeu mas nunca cumpriu. O amor deles não era mar. Era um aquário. Um dia o vidro estalou. Ao acordar naquela manhã ela soube então: o amor não é um aquário. Mergulhou no mar com caudas de sereia e nadou nas frases feitas até às profundezas da sua vontade. No local onde o mar se abria em anémonas de luz e de sorrisos. Onde as caudas brilhantes de um peixe desconhecido douravam o silêncio de mil eras. Sempre havia mais peixes no mar. E no fim nunca mais quis aquários. Porque só no mar se aprender a amar.

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