Lembra-te de mim

Lembra-te de mim. O medo corroeu os cordões dos sapatos e de repente mordeu-me o dedo do pé. De súbito poderias acordar e maquinalmente desfrutar um dia maravilhoso e ensolarado, sem que a tua mente se cruzasse (nem sequer uma vez) com um pensamento de mim. Nem sequer se iria cruzar, quanto mais um engarrafamento de pensamentos de mim ou um choque em cadeia, como os que às vezes tenho, de ideias de ti. Responde-me! Pergunto quase a lacrimejar e a gritar num sussurro que não parta louça. Um sussurro que não arraste tapetes ou interfira nas conversas de alguém. Afinal só poderia ser um sussurro, porque estou a pensar o que não tenho coragem de te dizer. Repito a pergunta presa na retórica do monólogo interior. Não quero que me percas no labirinto de ti. Tenho medo que olhes o céu e eu não seja nenhuma estrela, que não seja mais que uma chamada em espera no teu telemóvel, uma sombra de algo que ficou para trás mas não apetece pensar nem por um segundo, quanto mais um minuto. O medo já acendeu o rastilho e eu seguro-me ao corrimão para não escorregar, sigo com o coração a cambalear até ao final da escadaria das dúvidas. Fecho-me em copas porque esta pergunta não pode sair do meu baralho. Esta jogada eu não posso fazer. Ou irás jogar um cheque-mate mesmo que isto não seja xadrez. Eu não te quero prender. Apenas não te esqueças de mim. A cada dia, como se cada dia fosse um degrau. Não podes descer dois degraus de cada vez. Desce comigo os degraus. O medo levantou as antenas e grita cada vez mais alto. Ninguém mais ouve mas na minha alma-sirene os apitos seguem-se sem ter fim. Lembra-te de mim. Lembra-te de te lembrares de mim.

Comentários

Anónimo disse…
Adorei o texto!A lembrança é a ultima coisa q resta de algo bom q vivemos ou sentimos--