Estrangeiros

Eram loiros e magros, brancos de chuva. Falavam inglês de olhar azul gélido sem olhar para o outro. Ela tinha ombros ossudos, olheiras cavadas e escuras, ponto negro na típica beleza britânica. A pele enrugada traía os jovens calções amarelos e t-shirt branca. A boca era fina e sem lábios, o quadro (im)perfeito de um semblante rígido mas nervoso.
Comiam gelados de cone-bolacha e morango, iguais. Ela mais voraz que ele, o pequeno e magro pulso tremia de gula e a cara ficava mais sulcada e velha quando atacava o gelado, mordia com raiva. Ele nem reparava, era igual em cor mas com ar vivo e decidido. Comia com calma contemplando o mar. Sentaram-se na mesa em frente à minha, ela na minha direcção encostada ao vidro e ele duas cadeiras de distância dela do lado oposto.
Só se encontravam em viés, como se estivessem chateados. Se calhar até estavam. Ou talvez fossem apenas mais dois amantes que não se sabem ver.
"She was the saddest girl to ever hold an ice cream".

Comentários

AR disse…
Agora é que eles andam aí a dar com um pau!

O teu post inspirou-me a descrever uma situação parecida com que me deparei hoje:
Aqui mesmo, na Av. de Berna, vi uma miúda inglesa com outro senhor mais velho que decerto era o pai...e foi triste. Ela parecia triste e o pai desorientado...com este bafo ela tinha uma sweat-shirt com capuz...não é normal...devia tar doente...ou triste. :|