avó.eternidade
Ziguezague Perturbante. Filas de mármore.Flores e incrições perdidas algures pelo tempo. A camuflar corpos inertes, escondidos nas entranhas da terra.Um silêncio imperturbável percorre os muros, as árvores e as pedras caladas da eternidade.É isto a eternidade, esta distância de tempo que nos separa. Entre a vida e a morte. Entre o teu cadeirão vazio e o tempo dos sorrisos. Longe o calor das nossas canções e da melodia dos nossos versos. Resta a tinta da tua caneta nos postais de natal. Tentei recordar hoje o som da tua voz, avó. Já não sei se consigo. Não sei como esquecer-te.E tenho medo de já não saber como lembrar-te. Eternidade. O que já lá vai. Momentos irreversíveis. Eu, já crescida, na protecção do teu regaço. Depois há a última imagem que guardo de ti: os teus braços magros e doentes num abraço cansado. E eu que me revoltei contigo por ires embora. "Não tinhas o direito de morrer, eu preciso de ti". Só que tu tinhas de morrer para que do adubo de ti floresça vida. Estarás em algum lugar ou não-lugar a olhar por mim?Perdoas-me por te ter esquecido tantas vezes ao longo destes cinco anos?Tu estás em mim, serei uma parte de ti em cada verso que escrever, afinal foste tu que me ensinaste.Recordo o meu riso em pequena à volta das tuas saias: "vamos embora avó", sempre impaciente. Dizias que tinha bicho carpinteiro e acho que tinhas razão. Guardei-te, escondi-te porque lembrar-me de ti magoa.Amar-te magoa. Porque só posso amar a tua ausência.Amar-te e odiar a tua ausência. E no vai-vem do baloiço dos dias poderás pensar que te esqueci. Eu não te esqueci. Poderás pensar depois de morta?Avó. Neta.
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