mulherzinha

Giras e giras e tornas a girar nestes cem metros quadrados de pura luxúria. Conheces a rota das ilusões como a palma da tua mão e a textura do teu próprio cabelo. Unhas vermelho-sangue, tamborilando na mesa da espera. Fumas a liberdade apressadamente no cachimbo de outro corpo. Corrompido o mistério largas aquele corpo e substituis por um copo, vagarosamente. Devias fumar como bebes. Lentidão. Degustar cada segundo, como o fazes em honra de Baco.E se em vez de fumar pudesses amar? Apenas te entregas por meia dúzia de prazeres explícitos que pouco deixam em ti. As tuas relações são sempre como os teus vícios: começas umas para acabar outras sem qualquer luto. Quem morre és tu, o teu coração-prostituto despedaçado. Fútil, irremediavelmene fútil e traidora. Afinal, és casada (e porra tens uma boa vida e ordenado chorudo). Sempre tiveste a mania das grandezas mas não és grande coisa. A saia vermelha abana quando cirandas pelos dias e ao longe ouve-se o tilintar das pulseiras de ouro que ostentas de maneira vulgar. Todos te desejam mas apenas por uma noite. E tu própria não sabes amar. Fartas-te depressa da roupa, do calçado, dos homens e até da vida. Que para ti vale tanto como uma moeda de dois cêntimos. Mulherzinha de aroma adocicado com travo de arsénico. Mulher-veneno. Mulher torre-de-babel invertida (não chegas ao céu, a tua torre cresce em sentido contrário para as catacumbas do mundo). Ciradando e ciradando, agora em cento e cinquenta metros de luxúria, porque o quarto é outro.

Comentários

Fátima disse…
Mulheres de vermelho-sangue que cortam a vida com as unhas grandes e afiadas. Fúteis e desprezíveis. Tantas, tantas, cada vez mais numa sociedade que não se importa e consome o mundo com a mesma sofreguidão egoísta e perdida como quem bebe vodka.
AR disse…
"menina feita mulher"
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