O dia
Espreguicei-me sem pressas e abri os olhos. Era mais um dia como qualquer outro daqueles em que chove para fazer sol logo depois. Eu era assim, uma chuva seguida de sol ou uma tempestade a desabar na claridade. Uma mestiçagem impressionante de pinturas e cores diferentes. Não me consigo compreender e talvez seja por isso que muita gente não me compreende. Se disser que às vezes só me apetece fugir no carrossel que há dentro de mim, não estaria a mentir. Daqueles dias em que só apetece ficar sozinha e escrever uma banalidade qualquer. O estranho é estar feliz e sentir-se estranho depois do estar feliz. Uma ressaca emocional de sentidos, de sensações em catadupa que passaram tão depressa e cessaram. E vinte e um anos volvidos do meu primeiro encontro com este local esquisito, que é o mundo, continuo a sorver a vida tão intensamente, que às vezes parece não haver tempo para degustar, qual prato raro, servido com talheres de prata. Olho as fotos e não sei se estive lá ou imaginei que estava lá. Mas dizem-me que estive e eu acredito. Que passeámos pelos enormes jardins e demos as mãos em retratos que agora olho e são de sépia. Mas quando os vivemos eram bem coloridos. Agora são apenas memória. Oh como gostava de ter vivido esse dia com mais calma!Que não tivesse passado por mim a correr, como um ciclista desejoso de chegar à meta. E nesse dia a festejar o "eu ter nascido", houve sol e meio-luar na lua escondida, talvez a não querer ofuscar o brilho de uma aniversariante. Houve beijos e presentes, dentro e fora dos beijos. Houve luz e houve vida. E amizades dos que se recordaram do dia e acharam por bem recordar. Talvez porque gostem de mim, talvez porque sim.
Comentários
se vivessemos tudo com calma era um aborrecimento. sou como tu, é bom, paramos pra pensar depois aos 80 =)
e sim, gostamos de ti pá!