Eu era aquela que ria por qualquer razão ou chorava, sem querer, por um qualquer motivo. Aquela que se perdeu no primeiro dia de faculdade quando quase toda a gente seguia naturalmente o caminho para o portão. Eu sou aquela que não vê um palmo à frente do nariz e a quem toda a gente aponta com um sorriso "ali estás a ver". Aquela que cumprimenta toda a gente com um beijinho, a não ser que os ódios de estimação não o permitam. A que confunde o botão da luz com a campaínha e deixa sempre cair as coisas que traz na mão. Cabeça na lua sempre a fervilhar de tantas emoções. A que corre e tropeça sempre, invariavelmente, em qualquer coisa. Que fala alto e usa as mãos para gesticular as frases e as vive cada coisa no seu êxtase. Que fica feliz por ver a lua no alto do céu e que às vezes se comporta como uma criança de quatro anos. Que nunca faz nada certo mas que tem graça por fazer tudo errado. Todos os dias promete que hoje vai correr tudo bem mas tem sempre uma peripécia para contar no fim do dia. Mas agora não tem graça nenhuma. Não tem graça magoar ou irritar alguém com as suas criancices e esquecimentos. Com a sua vida vivida à velocidade da luz entre o contentamento e a incerteza. Ela é aquela que experimenta mil pares de óculos até achar um que lhe fique bem. Que não gosta de chocolate e fica possessa quando lhe fazem partidas que envolvam esconder coisas. Afinal, ela já perde tudo. Ela é aquela que faz a cama e no fim de ter tudo se depara com um lençol esquecido. A dos sonhos estranhos e dos dias de mulheres de mau humor, com vontade de esganar pessoas. Ela cresceu assim, na confusão das suas coisas e dos seus medos. Do embaraço que a descubram assim, imperfeita de forma infalível e mais que tudo: indefesa. E de tão nervosa irá concerteza ganhar bochechas encarnadas e olhos parados no chão. Se não tiver cuidado, irá gaguejar. Ela é aquela que bebe galões e capuccinos com prazer no olhar brilhante. E que nunca se fartará de galões mesmo que beba mil por dia. Aquecem-lhe a alma e os sonhos. Ela é aquela que pensa e repensa todas as coisas e tem as ideias mais absurdas e as prendas mais inesperadas. As atitudes mais parvas e os abraços mais apertados. Que ignora e grita. Que rabisca sonhos em folhas de papel. Aquela.
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Comentários
As pessoas perfeitas não têm graça! Acredita nisso!
Bjs
boa descrição martinha =) mereces um beijinho*