Avenida da Liberdade

Pela minha janela se agita a bandeira de Portugal, ao centro da Avenida, acenando a quem passa, amarelos autocarros e velozes carros que vão colorindo a paisagem. Tenho estores entrecortados como os detectives, vejo o mundo às tiras, como um puzzle. Brincam pelos meus olhos as peças loucas, tão vivas, a imensa Avenida cabe no meu olhar como um quadro.
Daqui me vejo, tudo vejo, e ninguém me vê. Daqui crio sem saberem, inspiro-me naquela pequena madame de tailleur e mala do tamanho do telemóvel, movendo-se rápida e nervosamente, tantos passos por quantos a esperam, tantos passos por tanto que tem de fazer, e a criança que corre suja de poeira do futebol para o ralhete da mãe, mala a escorregar nos ombros, batendo impiedosamente nos joelhos. E o mendigo que toca melhor que o cantor do top de vendas.
Esqueço-me do copo na minha mão, plástico com espuma seca do café que ainda saboreia a minha boca e me delicia a cidade. Esquecido também o trabalho, tão difícil concentrar-me em mim quando há tanto pra ver.

Comentários

AR disse…
iça me essa bandeira! pk é q a contemplação é mais bela quando temos algo pa fazer!?
=***
amelie disse…
sinto-me no ecrã do "janela indiscreta"! ver sem ser visto, panóptico lembra-te alguma coisa? :P