O iogurte
Aquele iogurte tinha um sabor diferente do habitual. Sabia a morango-malagueta ou banana-canela. Subitamente a rapariga começou a ter o sabor da língua dele, língua que dançou com ela até de madrugada. Numa guerra sem espadas e sem tréguas. Picava na língua o iogurte de sabores exóticos e o seu beijo-afrodisíaco, cheio das especiarias que lhe acordavam as papilas gustativas e a fazim tremer da cabeça aos pés, da cabeça aos braços, ao pescoço. O seu corpo era água para refrescar o corpo-malagueta dela. Fechou a porta, calçou os sapatos de dança e rodopiou no tango. Dançou o tango no corpo dele e inscreveu palavras que nem sussurradas foram, porque o tecto poderia contar a alguém. Alguém que depois deles habitasse nesse quarto e num dia sem-ideias olhasse o tecto e falasse sozinho com ele, que responderia eventualmente:"alguns dançaram o tango da junção dos corpos aqui". Enquanto isto, mal sabiam eles, eu espreitava pela fechadura da porta, assombrada perante o espectáculo que aí se desenrolava. Contou-me mais tarde a rapariga que assim era há já muito tempo. Que só ele accionava o seu mecanismo de corda, aumentava a temperatura do seu termómetro. Só ele a desidratava, inflamava, chamava daquela forma. Os seus olhares-fogo, olhar-prazer, olhar-paixão, olhar-suspiro condensavam tudo o que aquele ambiente significava. Emanava paixão. As paredes vermelhas, o vestido vermelho dela, as cortinas vermelhas, o céu raiado de vermelho. Os lábios continuavan mergulhados um no outro. A rapariga pronunciou qualquer coisa baixo e o rapaz sorriu. Desligaram a luz e deixei de conseguir ver. De fundo, apenas a música, desta vez um bolero quente e selvagem enquanto na escuridão uma valsa de mãos de desenrolava. Um bolero de beijos salpicados de luxúria aquecendo a atmosfera. E tudo começou com um iogurte que sabia a malagueta.
Comentários
E sim, menina, nós sabemos que nem tudo o que escreves se inspira em... factos reais ;)
hihihi
=D bjs minha martoche
Lembrei-me logo do teu post como não podia deixar de ser... lool