Vivo?
Apetece-me embarcar na ilusão e perder-me no sonho do que não existe, errar por entre noites de luar, dias de arco-íris, de cores fortes, que enchem o horizonte de um olhar cinzento, esse olhar que é meu e de tantos rostos que não conheço mas reconheço, no vazio de sorrisos abertos e tristes, grandes e aparentes... mortos. Apetece-me voar sem rumo, esquecer onde vivo, quem sou, quem fui, quem pensei em ser. Quero apagar as memórias de um passado que já não é meu, de um presente que já não vivo, de um futuro que não quero viver. Afinal, eu vivo? Será que alguma vez VIVI? Será que quero viver? Não sei, não sei, não sei... Não me sei, não me quero saber... Quero errar por aí, voar por aí...esquecer por aí...recriar-me por aí...pintar uma nova tela, desenhar novos caminhos, tornar-me bola de plasticina para me moldar de novo, ou esboço a carvão, para ser apagada ou amachucada... Mas tenho medo de ser plasticina, de ser moldada com força e de ficar com as marcas das unhas de quem me tenta mudar, ou prender como uma mão que aperta a outra egoísta e cega. Tenho medo de ser carvão, posso ser apagada; tenho medo de ser papel, posso ser amachucada de novo, perdida num qualquer cesto de papéis cinzentos, esboços de vida, romances por escrever, guiões por realizar... Não sei se sei viver, não sei se sei SER...(Será que alguma vez SOUBE? E será que algum dia vou SABER?)
Recuperado, de 3 de Julho de 2005
Recuperado, de 3 de Julho de 2005
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