Letras... soltas. Desenhando a minha vida.
Tentei desenhar a minha vida numa folha de papel. Com um lápis de carvão, fui descrevendo o rumo que deixei que ela tomasse… deixando a minha mão passear por aquela então imaculada folha branca, deslizei com o lápis, desenhando os mais tortuosos e incompreensíveis caminhos, reconstituindo mentalmente o mais pequeno passo, e descobrindo, curva a curva, que sempre me deixei levar, como um rio que não conhece o destino das suas águas, mas diz-lhes, baixinho, num cantar que o vento e as folhas das árvores acompanham, para seguirem ao sabor da corrente. Preenchendo devagar aquela folha que por certo não imaginaria que em pequenos riscos incompreensíveis mesmo a olhos de um qualquer criptólogo, representaria algo tão poderoso como uma vida, li-me por dentro, abrindo o livro do meu passear pelo mundo apenas com uma folha e um lápis de carvão… capítulo a capítulo, descobri também que sempre sussurrei ao meu coração que vivesse, que deixasse os sentimentos voarem em direcção a algo que os abrace e lhes fale baixinho de felicidade e harmonia… descobri que sempre quis sentir que não agarrava a vida com a preocupação e a racionalidade dos que se regem pelo medo de sofrer e acabam por deixar apodrecer o seu coração… porque eu nunca o quis fazer bater apenas por necessidade, mas pela beleza de uns olhos que brilham, reluzindo e cintilando como que tomados pela magia das estrelas, porque encontram na tempestade um arco-íris quando alguém rompe multidões que se debatem e competem entre si, para abraçar num beijo alguém que só quer sentir o milagre e a beleza da vida…
Horas e horas de leitura depois, quem olhasse então para aquela folha de papel, veria apenas um enorme novelo confuso e recheado de linhas, pelas quais percebi que, felizes ou nem tanto, já conduzi a minha vida pelos mais variados caminhos, com rédeas pouco cerradas… posso dizer que já vivi qualquer coisa e que estou cada vez mais perto do preenchimento e da satisfação plenas… e isso só foi possível devido aos pequenos pontinhos que fui fazendo junto às confusas linhas que deixei a minha mão desenhar… os pequenos pontinhos, singelos, únicos, intrigantes e belos, cada um à sua maneira… quem tem acompanhado o meu caminhar… os leitores do livro da minha vida.
Comentários
Um post muito completo, muito belo, também. No fim, um quadro que deve ser apreciado, sempre cada vez mais perto da perfeição. Continuem... por favor.
Prometeu
Esparsos
Finalmente, um espaço onde 3 pessoas extremamente sensíveis e atentas podem expressar o q lhes vai na alma através desse meio tão poderoso q é a escrita... É bom constatar q esta paixão vos assolapou. Não resistam, não vale a pena. Entreguem-se a ela com toda a vossa criatividade, ousadia, sensibilidade. Deixem-se seduzir e seduzam quem vos lê.
Ísis, o teu post confirma aquilo q há mto ambas sabemos: temos tanto em comum q parecemos irmãs gémeas (seraradas à nascenças, claro!). A tua escrita transparece fielmente quem tu és, identifico-te/me em cada uma das tuas palavras. Escreves o q sentes e eu sinto tudo o q escreves.
A minha vida, tal como a tua, pode ser desenhada a linhas incomprennsíveis. No entanto, duma coisa tenho a certeza: vcs são três "pequenos pontinhos, singelos, únicos, intrigantes e belos". E, "cada um à sua maneira", tocou a minha vida.
Boa sorte! *****
Os meus parabens a todos e espero ler muitos mais escritos! bjinhos, nessa****
Mas, sobretudo, é a nossa memória que nos enseja esculpir a nossa identidade, identidade essa que é mirada por aqueles que se cruzam connosco nesta breve errância rumo ao desconhecido..