Letras... soltas. Desenhando a minha vida.


Tentei desenhar a minha vida numa folha de papel. Com um lápis de carvão, fui descrevendo o rumo que deixei que ela tomasse… deixando a minha mão passear por aquela então imaculada folha branca, deslizei com o lápis, desenhando os mais tortuosos e incompreensíveis caminhos, reconstituindo mentalmente o mais pequeno passo, e descobrindo, curva a curva, que sempre me deixei levar, como um rio que não conhece o destino das suas águas, mas diz-lhes, baixinho, num cantar que o vento e as folhas das árvores acompanham, para seguirem ao sabor da corrente. Preenchendo devagar aquela folha que por certo não imaginaria que em pequenos riscos incompreensíveis mesmo a olhos de um qualquer criptólogo, representaria algo tão poderoso como uma vida, li-me por dentro, abrindo o livro do meu passear pelo mundo apenas com uma folha e um lápis de carvão… capítulo a capítulo, descobri também que sempre sussurrei ao meu coração que vivesse, que deixasse os sentimentos voarem em direcção a algo que os abrace e lhes fale baixinho de felicidade e harmonia… descobri que sempre quis sentir que não agarrava a vida com a preocupação e a racionalidade dos que se regem pelo medo de sofrer e acabam por deixar apodrecer o seu coração… porque eu nunca o quis fazer bater apenas por necessidade, mas pela beleza de uns olhos que brilham, reluzindo e cintilando como que tomados pela magia das estrelas, porque encontram na tempestade um arco-íris quando alguém rompe multidões que se debatem e competem entre si, para abraçar num beijo alguém que só quer sentir o milagre e a beleza da vida…

Horas e horas de leitura depois, quem olhasse então para aquela folha de papel, veria apenas um enorme novelo confuso e recheado de linhas, pelas quais percebi que, felizes ou nem tanto, já conduzi a minha vida pelos mais variados caminhos, com rédeas pouco cerradas… posso dizer que já vivi qualquer coisa e que estou cada vez mais perto do preenchimento e da satisfação plenas… e isso só foi possível devido aos pequenos pontinhos que fui fazendo junto às confusas linhas que deixei a minha mão desenhar… os pequenos pontinhos, singelos, únicos, intrigantes e belos, cada um à sua maneira… quem tem acompanhado o meu caminhar… os leitores do livro da minha vida.

Comentários

Daniel Cardoso disse…
A nossa vida é envolta em traços confusos que se desenham pela nossa mão. Às vezes, tudo parece ilusão, outras vezes, parece completamente incompreensível, mas para além do medo de sofrer está a alegria de sorrir, de amar e ser amado.

Um post muito completo, muito belo, também. No fim, um quadro que deve ser apreciado, sempre cada vez mais perto da perfeição. Continuem... por favor.

Prometeu
Esparsos
Anónimo disse…
Eu ia dizer, com todo o orgulho, q era a 1ª a comentar o blog. Tinha tudo preparado. Já tinha até escrito, quando sou surpreendida pelo comentário do Prometeu. Ó sr Prometeu, isto faz-se? Partiste-me o coração! Não faz mal... porque eu vi nascer o blog!
Finalmente, um espaço onde 3 pessoas extremamente sensíveis e atentas podem expressar o q lhes vai na alma através desse meio tão poderoso q é a escrita... É bom constatar q esta paixão vos assolapou. Não resistam, não vale a pena. Entreguem-se a ela com toda a vossa criatividade, ousadia, sensibilidade. Deixem-se seduzir e seduzam quem vos lê.
Ísis, o teu post confirma aquilo q há mto ambas sabemos: temos tanto em comum q parecemos irmãs gémeas (seraradas à nascenças, claro!). A tua escrita transparece fielmente quem tu és, identifico-te/me em cada uma das tuas palavras. Escreves o q sentes e eu sinto tudo o q escreves.
A minha vida, tal como a tua, pode ser desenhada a linhas incomprennsíveis. No entanto, duma coisa tenho a certeza: vcs são três "pequenos pontinhos, singelos, únicos, intrigantes e belos". E, "cada um à sua maneira", tocou a minha vida.
Boa sorte! *****
Anónimo disse…
primeiro que tudo, os meus sinceros parabens aos tres autores: ao pirmeiro pela qualidade de escrita a q nos tem vindo a habituar ( e isto n sao epanas meras palavras han); ao segundo pela grande mensagem q o seu poema faz transparecer e, ao terceiro, pela clarificaçao q faz da vida confusa que, de facto, assim o é. No entanto, nao a criticar mas apenas a interpretar, a autora faz transparecer uma certa confusao quando diz q sempre disse ao coraçao para seguir os "prazeres da vida" e mais adiante nos informa q nem smpre teve momentos tao felizes. De facto, o coraçao nao se rege e por vezes segue caminhos que nós mesmos nao podemos impedir. Ao contrario da razao, o coraçao é algo incerto e no qual nao podemos sugerir ou ordenar. ele coloca-nos em todas as situaçoes para que possamos aprender com elas de modo a ir alem da nossa racionalidade, isto é, de modo a ir alem dakilo a q o nosso intelecto está habituado. nao somos nós que que dizemos ao coraçao para seguir a harmonia e a beleza da vida mas, pelo contrario, é ele que nos coloca perante o mundo para sermos nós proprios a distinguir entre o belo, o justo, o amor e paz.
Os meus parabens a todos e espero ler muitos mais escritos! bjinhos, nessa****
Marta disse…
Minha Ísis não podia enquanto companheira de blog deixar de comentar a tua belíssima obra de arte! Nunca tinha lido nada teu até hoje e estou surpreendida pela positiva. Raiozinho de luz a entrar pela janela, é como defiuno a tua escrita.
Anónimo disse…
Viver é, de facto, assimilar, sugar , sorver... a cada instante uma amálgama de emoções, de aromas, de sabores, de sons, de momentos, de sonhos que se amontoam confusamente nesse grande recepiente que é a nossa memória. É ela que grita o nosso nome...é ela que nos lê...e deixa ser lidos.
Mas, sobretudo, é a nossa memória que nos enseja esculpir a nossa identidade, identidade essa que é mirada por aqueles que se cruzam connosco nesta breve errância rumo ao desconhecido..
Fátima disse…
Obrigado a todos os pontinhos da minha vida que comentaram... :)