Pedra e mármore

O teu rosto...
Pedra e mármore
Que um dia esculpi com os meus dedos
Ontem,
Um qualquer ontem
Amontoado com outros tantos “ontem”
Da minha vida
Hoje há dedos, há mármore
Não há escultor
És pedra
Dura, fria
Não te conheço..
Amnésia do tempo
Tempo do que já não é
O calor da tua voz
A sussurrar-me ao ouvido
E o som cada vez mais longe
Ecos distantes
Cada vez mais fracos
Amor ontem
Esperança ainda
Tu pedra
Eu vida!

Comentários

Fátima disse…
Nem com toda a vida que possa habitar as nossas mãos podemos modelar algo em que esta, pura e simplesmente, não existe. podemos insistir em tentar modelar algo ou alguém ao nosso gosto e não ter sucesso, pois até o barro tem se abandonar às nossas mãos e deixar-se encarnar as mais variadas vidas e existências...
Daniel Cardoso disse…
Por muito que queiramos, a convivência amorosa entre duas pessoas acaba sempre por implicar mudanças, tanto mais que o amor implica uma simbiose de almas que só nos contos de fadas é perfeita e a priori. Só que, por vezes, podemos exagerar essa modelação, podemos forçá-la e estragar tudo. Depois, quando insistimos e a outra pessoa começa a reagir, estranhamos o facto de ela não estar à nossa "imagem e semelhança". Eventualmente isso acaba por matar o amor.

Não terá talvez o sujeito poético que parar de se afirmar como escultor para alcançar a felicidade?

Prometeu