Abstracto
Abstraio-me na abstracção deste ser abstracto que sou.Quem me conhece? Ninguém! Eu própria não me sei definir, qual pássaro perdido dentro do seu ninho. Mistifico-me pelas palavras, complexifico-me pelas histórias que construo sobre mim mesma. Desnudo as emoções ainda, quando o pensamento não me deixa correr livre, qual rio que corre indubitavelmente para o mar. As emoções arranham, incomodam, assolapam o organismo, o coração frenético a bater descompassadamente. Na febre dos dias o ódio misturado com sangue. O amor a entranhar-se neles e a curar as feridas. E disserto. Mas mais uma vez não acho respostas, eu peça de puzzle incompleta de mim. Gosto de me ver como um nada enigmático e cheio de luz à espera de outros tantos nada amontoados na febre, na cólera dos dias. Apetece sussurar baixinho para dentro de mim. Mas o mim é oco e não responde. As paredes do eu , não gritam ecos, não me imitam ou respondem... como penso hoje, não será o meu agir amanhã. Eu ser das trevas, lado lunar na luz. Hoje assim.Amanhã assado. E o tempo a correr atrasado para a sonolência da morte, sempre dois ou três passos à minha frente. A intensidade. Almejo-a. A intensidade, o fervilhar na cólera do tempo, seja eu quem for.
E olho-me ao espelho ainda, qual madrasta malévola de um conto de fadas perdido nos risos da infância. O meu rosto no espelho, um eu que não sou eu, para além dos olhos a fonte, a essência, do eu que o tempo oxidará.
Transcorre nos dedos do tempo o sangue das feridas abertas da vida e eu quero alardear ainda a intensidade. Ser intensa dia após dia, espremer o sumo dos minutos, dos segundos. Para esquecer e perder para voltar a encontrar.
E olho-me ao espelho ainda, qual madrasta malévola de um conto de fadas perdido nos risos da infância. O meu rosto no espelho, um eu que não sou eu, para além dos olhos a fonte, a essência, do eu que o tempo oxidará.
Transcorre nos dedos do tempo o sangue das feridas abertas da vida e eu quero alardear ainda a intensidade. Ser intensa dia após dia, espremer o sumo dos minutos, dos segundos. Para esquecer e perder para voltar a encontrar.
Comentários
Bom texto.
Prometeu
e nós somos mesmo esses puzzles de peças infinitas, feitos de peças especiais que têm um lugar igualmente especial em nós, como tu!
bj ninfa***
Gostei bastante do texto... Só que comentar depois de Prometeu deixa pouca margem de manobra... :P kidding
Parece que sempre que nos pensamos mais completos e senhores de nós, alguém nos rouba uma das peças do puzzle, ou nós a perdemos, para termos, de novo, a tarefa de completar, encontrar, descobrir (whatever) o nosso eu...
Bjinhos *
aproveita e transforma o sangue em sumo. escorre-o para uma misturadora multirracial e saboreia o resultado. não fiques triste quando acabar. repete o processo.
beijo e continua