A palavra

Era uma vez uma palavra. Tão pequena, tão fugaz, que ninguém daria por ela. Chegou de mansinho, de boca em boca, e desaguou no meu coração. Nunca julguei que houvesse palavras assim, capazes de nos fazerem sentir tão sozinhos e idiotas. Palavras-punhal ou palavras-flecha que chegam sem pedir licença. Não pedem nada mas tiram tudo. Palavras que me mostram o frágil que sou e me dizem que não faço nada certo. Cujo sussurro-veneno me corrói, dança comigo e me acompanha quando afasto os lençóis para mais um novo dia. Dizem que as palavras doíem menos que uma estalada. Eu acho que as palavras são um murro no estômago, um vazio no coração, um salto no abismo. Quando choramos e a culpa é das palavras, quem mais poderemos culpar? Os ouvidos que ouviram estas sementes de lágrimas? As mãos e os pés que não fugiram antes de serem bombardeadas com respostas a perguntas que nunca se fez? Para não ouvir as palavras vou criar uma bolha. Vou viver dentro ela e ser apenas eu. Nada me poderá magoar, proque sou apenas uma bolha de sabão, saída da arte de uma criança. Uma bolha colorida com vontade de sonhar e palavras doces a encherem a boca. Quero que as minhas palavras saibam a vida, amora, hortelã, amor, prosa, poesia. Ao menos não são como as tuas palavras com um trago de solidão, tristeza e raiva. A partir de agora vivo numa pequena bolha, a flutuar no céu. Onde já não há lágrimas, porque só as nuvens podem chorar as lágrimas do céu. Haverá tristeza dentro de uma bolha?

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