Analfabetismo emocional
Iliteracia sentimental. Analfabetismo emocional.Depois da conferência as cadeiras foram ficando vazias. Falar sobre a política nacional ou internacional era para ela como sopa no mel. Canja. Só gaguejava na amena presença da voz do estagiário. Só corava na presença discreta do novo funcionário, que a tratava por doutora e desconhecia que tinha mais poder do que os deputados que a enchiam de perguntas. Agarrou no casaco e percebeu. Nenhum dos cursos da treta que tinha tirado iria alguma vez eliminar aquele desconforto na alma, o corpo a sair do corpo e a devorar-lhe a alma de desejos. A alma dela icendiava-se sobre a capa austera do casaco cinzento que usava nas ocasiões formais. O rapaz trouxe o café e quem observasse a cena de longe perceberia. como os olhos dela enrubesciam, como as maçãs do rosto brilhavam. Viajava veloz pelo vento a voraz volúpia. E num mundo de v's só não vê quem não quer. Talvez ela tivesse ouvido o que pensei. A dada altura chamou o estagiário e na sala de conferências vazia deu a palestra que mais ansiava. Mas para a qual estaria certamente menos preparada. Ele percebeu o analfabetismo emocional da sua interlocutora, e juntou o aeiou dos corpos, às vogais juntou consoantes que se encaixaram em cada milímetro do corpo-alma. Ela sempre foi uma boa aprendiz. Ele sempre gostou delas mais velhas e mais maduras. Mas ali nem a idade contava porque o tempo perdera a forma, massa informe suspensa nas linhas de uma agulha que não começou a cozer. Assim é o tempo dos amantes, um poema incabado, um intermédio que não chega a ser fim, um para sempre que pode durar apenas escassos segundos.
Comentários
Gosto muito, muito, muito =)
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gostei :)
bjinho* boa semana
Gostei, menina dos galões =)