Reflecti sobre uma questão que me puseram. Não é estranho escrever "para ninguém", deixar correr linhas e linhas de frustrações, sonhos, desejos, sentimentos, que afinal não mudam nada nem ninguém? Não é uma existência solitária? Não é mais fácil sair e trabalhar, procurando orientar um dia-a-dia agradável e satisfatório, do que estudar e perder tempo a pensar ou à espera de qualquer coisa mesmo perfeita? Talvez... No entanto, conheço pessoas que fazem essa vida, e preferem a minha. Querem voltar a estudar. Lamentam não ter lutado mais. Porque ler, estar atento, instruir-se, muda-nos mais que passar o dia numa loja qualquer, mesmo que assim tenhamos mais dinheiro e liberdade para ir a concertos, cinemas, comprar os melhores telemóveis, computadores, jogos, filmes... Não concebo, pelo menos para já, uma vivência tão esgotante fisicamente e tão vazia emocional e psicologicamente. Não saberia arrastar-me pelos dias e pelas pessoas que acabaria por não saber saborear nem conhecer. Pequenas vitórias como comprar aquele disco de música, aquele jogo ou aquele filme sabem muito melhor que poder comprar cinco por dia. Devagarinho aprendemos a ser quem somos, e a saber os outros.

Afinal, os cantores e os escritores também passam a vida a lutar contra a maré, a transmitir sensações, pensamentos, ideias, sendo por vezes ignorados ou tratados como um mero produto comercial... Mas fazem o que sentem que têm de fazer. E alguém que eles nunca viram e não conhecem pensa como eles, concorda com as suas ideias e dorme embalado pela melodia das suas palavras.

A mim sabe-me melhor escrever e estudar nas horas dos meus curtos dias e longas noites que viver comodamente com o meu emprego e os meus pequenos luxos, numa existência ociosa e sem nada de diferente para contar.

Comentários

Marta disse…
OH k bonito... e n em ti n há vazio emocional...!Esperemos que nunc ase esgote esse teu rio d ideias e palavras
Fátima disse…
sabe muito melhor ir vivendo calmamente, sem aquelas obrigações que nos tornam mais vazios. gosto mais assim. =)
Li disse…
Bem... encontrei este blog agora, e estou encantada. Que escrita fantástica!!
Sérgio disse…
Tens razão Ísis, quando se deixa de viver como tu dizes e se começa a querer transformar o tempo em dinheiro, há quem quem diga que é nessa altura que se é maduro ...eu diria que ganhamos rugas na alma.
(Faz-me lembrar O Principezinho, não queria nunca crescer nessa direção)