Conformismo?

Será que a imortalidade nos traria a realização de uma existência que dizemos sempre incompleta, e a ausência do medo de não de poder repetir aqueles momentos ou de deixar de sentir no angustiante "silêncio sem fim" de Vergílio Ferreira? Não será egoísmo prender aquele fio de vida a uma dependência emotiva e pessoal? Para quê perpetuar a decadência de uma existência orgânica? Afinal todas as ciências do saber, como a Fé, a Filosofia, a Antropologia e a Medicina dependem da incontronável não-existência. Siguemos agora José Saramago... Como seria se a morte um dia deixasse de existir? O caos. Hospitais cheios, governos em desespero, moribundos em contínuo sofrimento... Por isso, hoje, posso dizer... Serenidade e conformismo serão as palavras de ordem (bem, o desafio que apresento ao meu eu em polvorosa).

"...multidões de pais, avós, bisavós, trisavós, tetravós, pentavós, hexavós, e por aí fora, ad infinitum, se juntarão, uma atrás de outra, como folhas que das árvores se desprendem e vão tombar sobre as folhas de outonos pretéritos, mais où sont les neiges d'antan, do formigueiro interminável dos que, pouco a pouco, levaram a vida a perder os dentes e o cabelo, das legiões dos de má vista e mau ouvido, dos herniados, dos catarrosos, dos que fracturaram o colo do fémur, dos paraplégicos, dos caquécticos, agora imortais que não são capazes de segurar bem a baba que lhes escorre do queixo..."

As Intermitências da Morte, José Saramago

Comentários

Marta disse…
A intensidade de todas as coisas está inevitavelmente e cmo um cor~dão umbilical associada À sua efemeridade. Como a memória ao esquecimento.