Aquelas noites
Hoje é um daqueles... não, daquelas noites (ia dizer dias, mas está mais que claro que escrevo com a noite - como dizia Vergílio Ferreira, companheira da reflexão e do auto-conhecimento), em que me apetecia escrever numa língua que ninguém compreendesse, num daqueles meus paradoxos de querer ser lida sem que ninguém entenda as minhas palavras, apagando as tochas da gruta em que as escondo a cada linha.
Esta noite desdobrei aquelas palavrinhas que me disseste, levantei os pontinhos e espreitei debaixo dos acentos, estiquei as vírgulas e os pontos finais, e fiz mais parágrafos. Tentei escrever com uma língua e uma gramática diferente. Até inventei novos vocábulos neste polvo computorício que me aprisiona numa ridiculez crónica. Mas não consegui fazer uma língua completamente nova, com palavras e uma gramática completamente diferentes, para dizer tudo sem ter de explicar muito. Porque a simplicidade só existe quando danço no meu quarto e faço barulho com a palhinha a beber batidos de banana. Porque as metáforas chegam quando dizes que gostavas de sair à rua quando está a chover, como eu. Porque vou sempre à procura do arco-íris mas acabo só por enchacar os ténis e sujar as calças, e de tirar muitas fotografias ao céu.
Sabes, há uns tempos, subi as escadas. E fiquei no sotão. Não. Na varanda. Gosto de estar na varanda. Do ar gelado que torna as pontas dos meus dedos escarlates. De ver a paisagem tosca dos carros velhos e os jardins mal tratados. Dos guarda-chuvas ridículos dos meus vizinhos. Das barrigas de cerveja a aumentar. E as permanentes também. Do cão mais pequenino a ladrar a toda a gente, enquanto o maior dorme pachorrento no meio da estrada. Do barulho das oficinas e das rádios e das televisões que falam e cantam por cima umas às outras, por cada casa da rua. De ver o aglomerado de mulheres no muro a misturar receitas com coscuvelhices. E depois sair para um café à beira-mar. Sentir as pingas salgadas do mar no meu rosto. E de ouvir o mar a bater contra o paredão durante duas ou três horas de gargalhadas sonantes.
Gosto de estar na minha varanda, como quando era miúda, a escrever o meu nome ao contrário na janela para que as pessoas lá fora percebessem. Gosto da minha varanda. Eu não saio sempre que está a chover...nem gosto de desdobrar as tuas palavras. (Gosto de ouvi-las só, e de acreditar nelas. Porque são verdade, antes de as desdobrar.)
Esta noite desdobrei aquelas palavrinhas que me disseste, levantei os pontinhos e espreitei debaixo dos acentos, estiquei as vírgulas e os pontos finais, e fiz mais parágrafos. Tentei escrever com uma língua e uma gramática diferente. Até inventei novos vocábulos neste polvo computorício que me aprisiona numa ridiculez crónica. Mas não consegui fazer uma língua completamente nova, com palavras e uma gramática completamente diferentes, para dizer tudo sem ter de explicar muito. Porque a simplicidade só existe quando danço no meu quarto e faço barulho com a palhinha a beber batidos de banana. Porque as metáforas chegam quando dizes que gostavas de sair à rua quando está a chover, como eu. Porque vou sempre à procura do arco-íris mas acabo só por enchacar os ténis e sujar as calças, e de tirar muitas fotografias ao céu.
Sabes, há uns tempos, subi as escadas. E fiquei no sotão. Não. Na varanda. Gosto de estar na varanda. Do ar gelado que torna as pontas dos meus dedos escarlates. De ver a paisagem tosca dos carros velhos e os jardins mal tratados. Dos guarda-chuvas ridículos dos meus vizinhos. Das barrigas de cerveja a aumentar. E as permanentes também. Do cão mais pequenino a ladrar a toda a gente, enquanto o maior dorme pachorrento no meio da estrada. Do barulho das oficinas e das rádios e das televisões que falam e cantam por cima umas às outras, por cada casa da rua. De ver o aglomerado de mulheres no muro a misturar receitas com coscuvelhices. E depois sair para um café à beira-mar. Sentir as pingas salgadas do mar no meu rosto. E de ouvir o mar a bater contra o paredão durante duas ou três horas de gargalhadas sonantes.
Gosto de estar na minha varanda, como quando era miúda, a escrever o meu nome ao contrário na janela para que as pessoas lá fora percebessem. Gosto da minha varanda. Eu não saio sempre que está a chover...nem gosto de desdobrar as tuas palavras. (Gosto de ouvi-las só, e de acreditar nelas. Porque são verdade, antes de as desdobrar.)
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