Amizade

Era um corredor muito, muito, muito comprido que ia dar ao fim do mundo. Pelo menos era o que diziam. Era um corredor muito frio e muito escuro e apenas se vislumbrava uma luzinha trémula no fundo do túnel. Eu era uma menina muito medrosa e não queria atravessar o túnel lúgubre sozinha. De repente alguém agarrou na minha mão com força e com a outra enxugou as minhas lágrimas. Ao longo daquele corredor, foram aparecendo mais sombras cujas mãos se entrelaçaram na minha. Umas iam e vinham rapidamente, algumas mãos apertavam com demasiada força, ao ponto de me magoarem. Essas mãos não eram sinceras. Mas havia sempre uma que nunca largava a minha, uma mão doce, perfumada, pequena e macia, que me segurava veemente. Tinha imensa curiosidade em descobrir a quem pertencia aquela mão mas a luz ainda estava muito longe. No entanto, comecei a ouvir uma vozinha interior, que mais tarde descobri ser a minha consciência, a debitar-me nos ouvidos um nome, ao início imperceptível, mais tarde totalmente entendível e pronunciável. Era uma palavra cheia de luz e sentimentos, cheia de sol. Era uma palavra ensolarada, misturada com a orla branca do mar. Uma palavra pequena que cheirava a um perfume peculiar, que tinha um riso terno e jovial. Essa palavra vinha embrulhada numa voz de criança a molhar os pés na água, completamente feliz. E a comer gomas às escondidas. Muitos minutos e horas passaram dentro daquele corredor enegrecido e triste, até que pronunciasse o teu nome. Muitas vezes tive medo de que me largasses a mão e fugisses porque já não saberia encontrar a saída. Cheguei a ter um pânico tão grande que atava os sapatos vezes sem conta, para não acontecer cair e perder a tua mão de vista no gigantesco corredor. Foi sempre a tua mão, é ela que recordo quando me recordo de ti. E é ela, és tu. Um dia enquanto cantava uma música enluarada disse o teu nome ensolarado: Fátima. Acho que foi poucos dias depois que achámos a saída desse corredor. Mas há sempre buracos e corredores. No entanto tenho os atacadores apertados, espero não perder a tua mão de vista.

Comentários

Fátima disse…
Eu também tenho um túnel e ténis sempre desapertados. E tu estás sempre perto de mim a deixar cair os casacos, a perder os apontamentos, a deixar a mala no refeitório, a dizer quem morre nos livros, a fazer barulho com a palhinha nos batidos... pois estás. (e a fazer textos lamechas para acabar comigo!!!!)
e pronto. =)
Maré Viva disse…
Que essa mão te acompanhe toda a vida
Mouro do Barlavento
Fátima disse…
ai...vou comentar outra vez!!!! porque AMEI das descrições da mão e da palavra! pronto... excedeste-te desta vez! e como se diz às prendas: não era preciso!!!! =)
Anónimo disse…
porque este post, sim, merece um comment ! é bom saber q essa menina não é apenas fantasia, uma fada magica com asinhas , saida dum conto de fadas.. (ainda bem..) porque se sentes isso tudo (lindo, é porque ela existe mesmo. é porque é real. é bom isso. e já que estamos numa de elogia-la.ela é como os tímpanos da minha orelha superior eskerda (sem ela nao oiço) como o meu braço direito! (sem ela nada faço) é a impressao digital do meu dedo indicador (a impressao digital é a caracteristica de cada pessoa.. é uma das mnhas mlhores caracteristicas.. :P te-la como amiga ! :D), é a raiz da minha loira cabeleira ( q alguem diz que sao madeixas) é a voz da minha consciencia que me dá voz a mim.. (sem ti nao falo.. ) é a planta dos meus pés , que me apoia SEMPRE, (sem ela nao ando..) é o iris do meu olho ! (sem ela nada vejo...) sem ela.. NADA ! e martita do ranxo, cuida da minha menina por mim quando nao estou ai.. eu sei que fazes isso mt bem. eu sei =) *
Fátima disse…
ei! calem-se!! =X isto é tudo para eu fazer um texto para vocês, é?? =P Inês, manteiga do meu pão (com sal e com colestrol), canela do meu arroz doce, migalhas de bolacha do meu chá! Marta, açúcar das pipocas da feira de maio, meu tofu da macrobiótica da faculdade!!! (só coisas pra comer...eu realmente...)

(odeio-vos terrivelmente - ao contrário)
Tiago Correia disse…
wow...que loucura de texto mais lindo...estou a começar a acreditar no que me disseram "ela é uma das melhores escritoras que por aí anda..." É dificil imaginar este texto a sair da cabeça duma "Chata, desequilibrada, doida, detrambelhada, azeiteira" como te descreves...se calhar é melhor repensares nesses adjectivos...ou então...disfarças bem! AH...já sei...sofres do sindroma de dupla personalidade! Mas eu tenho a descrição ideal para ti:
-A "Chata, desequilibrada, doida, detrambelhada, azeiteira" que escreve coisas lindas! E que tal? ;)
Anónimo disse…
Sim, na nossa vida existem vários tuneis e em cada um deles uma ou outra mão que nos guia, que nos ampara.
No principal túnel da minha vida, o mais escuro, mais comprido e mais temivel, senti muitas vezes pavor em perder a mão que me apoiava. Embora outras me puxassem, me tocassem, algumas até me tentavam pregar partidas, houve uma que esteve ali, sempre.
Qdo alcancei a luz, olhei em meu redor. N havia mão, n havia rosto, n havia corpo. Apenas restava um aglomerado sensações e recordações do túnel. A mão, essa mão que queria conhecer, que queria tb eu poder apertar, desapareceu. Como?!?! Estive sempre de olhos abertos, atacadores apertados... E como é que a perdi??? Tão perto e ao mesmo tempo tão longe!
Qdo no momento seguinte olhei para mim e me aceitei, decidi que aquela mão foi algo de extrema importancia para mim e para a minha descoberta... Mas se ela partiu sem que eu tenha cometido algum erro, é pq na realidade nunca foi minha, e eu fui dela. Apenas esteve ali...
Hoje, vários tuneis já atravessei... Várias mãos me guiaram... Mas o apoio de todas elas é diferente daquela mão inicial. Magoada, triste, baralhada...n consigo definir o que cá vai dentro! Esta busca de algo que sei que nca mais vou rever, é estranha! Talvez entre um passo e outro nos cruzemos, mas n nos sentimos... Eu pq n a conheço, ela pq anda longe.

Foste de todo importante para mim!
Coragem * nes:)