Clarividências

Ao fazer amor com o próprio horizonte, apercebi-me que há sempre mais além, mesmo depois do último raio de sol. Que depois do horizonte ainda há horizonte a perder de vista, a sombrear a pintura que subjaz à vida. Explodi em gotas cristalinas enquanto beijava as linhas do mais além. Além ali. Noutro lugar que não é este. Que não é uma cadeira solitária povoada de previsibilidades. Uma praia ou uma floresta para onde me teletransportei, naquele segundo em que fiz amor com todas as coisas belas da vida. A vida e o próprio amor, mesmo no deserto de um único ser. Enquanto te espero para partilhar todas as maravilhas do mundo, incompletas sem o teu sorriso. Sem o teu beijo mesclado de sentidos, do tacto ao paladar dos nosso desejos. E o horizonte ainda a percorrer-me o corpo e a alma. No momento em que do alto de mim todas as coisas são possíveis. Como se tivesse asas e voasse dentro do meu ser com a leveza infinita de uma pluma. Como se pudesse estar em qualquer lugar que a minha imaginação conceba. Apenas ela me acompanha no silêncio quebrado de flores murchas e vidros partidos a magoar os pés. Apenas ela me acompanha em cada cena solitária do meu filme. Em cada minuto sentada na cadeira de uma sala fechada e sem luz. Afasto o olhar para dentro e, por momentos, o mundo está à minha imagem. Olha, neste momento é um mundo leve e azul, em que o tempo está parado. Deixa. Por favor. Deixa o meu tempo ficar parado. Deixa-me ficar aqui. Porque lá fora eu..eu não sei se acredito. Qual ateu sem Deus. Qual sonho sem sono. Apenas a imaginação forasteira e eu forasteira dentro de mim.

Comentários

Fátima disse…
dentro da pequena clareira do teu amor