escrito apressadamente na mesa do café

Entraste na minha vida pela porta da frente. Não por aquela pequenina nas traseiras do meu quintal. Foi assim que entraste também na minha vida. Em dia de vendaval num mês de Fevereiro. Os teus olhos, uma lareira. Aquecem-me. E ao meu olhar. Olhar sensível de uma suposta escritora. Dedilho o teu corpo e a tua alma como uma viola. Enche-se agora o sítio onde estamos: de música, uma melodia que apenas eu consigo ouvir. Na curva perfeita do teu nariz enrolo a minha língua e apercebo-me desta singela verdade de que és mais para mim. A infinita soma das emoções. Tu és emoção à flor da pele. És a pele, eu a flor. Não proferimos uma única palavra. O que estarás a pensar? Dúvidas e medos enquanto me apertas a mão por cima da mesa. Espalham-se talheres e tilintam copos. A minha mão treme ao encontro da tua. O meu corpo-íman que se encosta ao teu. Mesmo que mais ninguém acredite, eu descobri o amor naquela tarde de fevereiro. Em que abriste a porta da frente. Esse teu sorriso, a tua pele a florescer nas minhas mãos. A beleza gentil das tuas formas. O vermelho fica-te bem. Não sei se alguma vez te disseram. Tu, o maior suspiro do meu coração. E sim, saberia ficar sozinha. Em qualquer lugar sem ti sou apenas uma alma perdida, um copo sem água. Garfo sem faca. Tu que entraste pela porta da frente com o calor das tuas mãos nas minhas costas.

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