Quem me dera estar na Jamaica
Há dias que não são bons. Há semanas que se espremem mas não deitam sumo. Há sonhos que saiem pela chaminé em forma de fumo. Há corações apertados entre mãos vazias. Sentada num canto, tece uma colcha de tristezas que já tapa toda a cama. As lágrimas fugiram pela janela, o rio secou. Mas o mar do peito parece querer rebentar no paredão. A alma solta um gemido abafado, mas toda a gente o consegue ouvir. Há dias assim, diz um coro em surdina. Pega-se no carro mas de que serve?Não há para onde ir, apenas uma verdejante solidão cobrindo os passos, as montanhas e os vales de cada um destes dias arrancados à força do calendário. Que demoraram a passar. Se o carro não vai para lado nenhum, não vale a pena esperar o autocarro. Ele não apareceu ou perdemos o único desta plácida manhã. Não, eu nem tenho jeito para escrever. Estou a abarrotar de letras que não querem sair, de lágrimas que não querem ser choradas. Lágrimas que pensam e que imploram para permanecerem quietas e escondidas. Os dedos martelam furiosamente para tentarem ser mais rápidos que a água que quer preencher os olhos. Hoje não vais quebrar a promessa. Não vais chorar nem alimentar desesperos. Fica apenas sentada na cadeira que te mostra o teu pequeno e enfadonho mundo. E não esperes mais porque quem espera desespera. Ama e sente o coração encher-se de ar. Sorri mesmo que tenhas de morder o lábio quando o fazes. A culpa no fundo é tão tua. E as letras hoje tiraram férias. Desistiram de te entender também. Letras na jamaica, na boca do inconfundível sotaque melodioso dos que habitam as margens da despreocupação. Só tu prescrutas o vazio de olhos maiores que o mar e imensos como o mundo. só tu mexes furiosamente no cabelo e tentas a todo o custo não chorar. Enquanto os outros estão na Jamaica das emoções.
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