Palavras Cruzadas

Uma rua polvilhada de álamos. Gostei da palavra, enquanto tentava fazer as palavras cruzadas. Palavra com seis letras para choupo. Deixei a actividade a meio (como quase sempre). Acho que nunca tive muita paciencia para letras nos quadradinhos. Ou por outra, rapidamente me enfastio. Ficou a imagem dos álamos. E do pão doce com duas letras. Ló. Lá ali. Sentada ao pé do rio Tejo. A minha musica a abafar o ruído dos automóveis e das conversas. Pus-me a pensar numa palavra de duas letras para saudade. Não havia, nem sequer com quatro, seis ou até dez. Saudade acorrentada ao sentimento da falta, qual barco atracado ao cais. Entrecruzo-me agora eu no cruzamento dos rostos e dos olhares. Desleixo-me do vazio cruzamento das letras. Regressam os álamos, numa fotografia pintada a carvão.
- Mas isso não é um quadro?
- Não
Pintei a carvão na mente criadora, fotografei na feliz contemplação do olhar. À minha frente, uma emigrante loira, pele queimada e boina cinzenta pintava com lápis de cor a paisagem da beira rio. Tal como eu, alheia ao mundo, descobrindo sóis, onde os outros julgavam existir apenas sombras. Desenha-me a alegria, por favor. Para visitá-la sempre que quiser, pintada de salpicos de cor de burro quando foge. Eu pinto-te nas aguarelas das palavras, estes minutos, acercando-me do Tejo, as palavras cruzadas num regaço. Pinto também a minha alma, com rabiscos incompreensíveis. Porque a alma é só minha. Este momento só meu. Só a saudade é tua.

Comentários

Fátima disse…
podemos sempre brincar com as palavras e com bocadinhos de nós =)
AR disse…
sorte de kem tem jeito para desenhar! e escrever! e sonhar!
=)******
Alexx M. disse…
Pinta.m o céu de cor.de.rosa e o amor de azul turquesa. Eu guardá.los.ei no bolso da camisa e levá.los.ei cmg para longe onde ngm possa dizer que as palavras cruzadas não fazem sentido fora dos seus minusculos quadrados e que saudade é coisa que não existe, quando ela vive bem dentro de mim...