"A Lua não está à venda"


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Parecia ter caído entre palavras sombrias que sabiam a olhos inchados e ardentes de choro. Uma mão invisível tinha posto a tocar o pesadelo num disco que não parava de girar com a lancinante cacofonia de gritos tremidos de medo. E o corpo abandonado embatia degrau a degrau nas escadas escorregadias de pedra geladas e bicudas que ecoavam a censura a cada lance. Na vertigem da queda, o desespero dos braços lançados para a transparência de rostos que serpenteando fugiam para o passado trespassavam-na como fantasmas, quando quase tinha a certeza que tinham voltado para lhe pentear os cabelos na almofada e dar um beijo na testa antes de dormir... Mas eram só espectros, sorrisos apagados das fotografias gastas por quem olha e passa distraída e esquecida do brilho pelo hábito.
O amor era agora negro e pulsava fel. O sonho sabia a passou-bem-negócio-fechado, está borrado de tinta permamente e sebento pelo dinheiro suado de ganância. O sonho já não era dela. Já não o queria. E hoje sobrava o frio das entrelinhas no silêncio. Alguém tinha assinado um cheque com as suas asas, e agora tinha aterrado sem quimeras no meio de papéis e mãos de unhas como facas, pontiagudas que a feriam como o veneno de um sonho cuspido como leite de repente azedo, como um segredo confiado e quebrado.
E não queria despentear a tristeza entre os cabelos e as lágrimas revoltosas, o acreditar em alvoroço, desfeito como uma bolacha no chá e o monstro da ansiedade enraivecido. Não queria ser concha e esconder-se nos lençóis quentes de aconchego. Não queria pôr os saltos e os músculos de esponja falsos. Só queria dizer que sim, que tinha querido acelerar o sonho e não era hora de adormecer, que tinha apertado a mão sem pensar e agora tinha sido puxada na violência de um querer que não tinha escolhido. Não! Não queria servir um prato recheado de palavras com perfume de magia a quem não as sabe saborear. Podia ter pouco mas o que escrevia era seu, não era barriga satisfeita de um colete apertado e de um sorriso afectado. Não! Se soubesse, tinha escondido a sua imaginação no maior baú do seu quarto pequenino de luas e sóis pintadas nas paredes, e desenhado o amor num céu só seu, que mais ninguém visse. Porque como alguém disse, "a lua não está à venda".

Comentários

AR disse…
Sempre podes tentar regatear o preço...
AR disse…
pois! isso é dificil se não está à venda...será então uma oferta? um brinde? Lua grátis não existe, pois não?
=P
Fátima disse…
não...é minha =) querem-ma comprar e eu não quero vender...
Anónimo disse…
Imagem linda, texto mesmo à Ísis...:D
Adorei =)
Onde se adquire o livro do Letras, han han?
o alquimista disse…
Pois não, já nem a oiço abraçada ao nevoeiro, será que foje, será que sente que lhe podem roubar a magia...

Doce beijo
Fátima disse…
Por enquanto só eu e a ninfa temos os nossos exemplares... mas o livro deve seguir para uma livraria na baixa, não na fnac mas uma perto.. ;)
Marta disse…
MAs será também possível encomendá-lo na fnac e também estará lá mas isso só em Dezembro. Ísis..não tenhas medo de pôr a lua à venda...pode ser que assim a "nossa" lua brilhe para muitas pessoas (ja estou a sonhar alto..) as tuas palavras, essa tua lua ilumina o céu da minha vida no mundo oculto do meu pensamento
Fátima disse…
pode ser, sim... já ando a perder o medo =)