Desdém


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Na certeza mais alta de mim, aproximo-me, direita e confiante. Claque, claque, claque. As molas cedem, as portas reconhecem-me. Entro. Explosão de efusividade. Como uma onda num estádio. Como um golo num café. Olá, olá, olá, tudo bem, isto anda calminho e por lá, quando chegaste, vieste sozinha, atropelam-se, lançam-se em catadupa. Caos de caras saltitantes, corpos-íman, euforia que me hipnotiza e me desenha um sorriso fácil com os olhos telecomando sem nome, que me seduzem e se sobrepõem sei rei nem lei. E de súbito disparas o teu brilho glacial, tão pouco humano. Fulminas-me como uma bala furiosa. Mas perdeste a tua pontaria de faquir de punhais certeiros e dilacerantes. Baixo o meu olhar como os míticos cowboys do Texas. Sigo de soslaio o teu olhar guloso, o sentir de cada sinal de mim que vibra em ti, como o mais psicótico assassino. Sorves cada pedacinho de mim. É delicioso beber cada gota do teu insaciável, previsível e estúpido desejo. As vozes enrolam-se em cacofonia com a música da aparelhagem. O barulho das gargalhadas entre o batuque electrónico moe-me a cabeça, e desligo o som. Concentro-me em ti. Cruel sou, neste gozo calado. Estás cego. Fui eu, sei-o bem. Fui eu que te roubei a lucidez num pestanejar de inocente sedução. Que te puxei o tapete debaixo dos pés num tiro de magnetismo. (Oh Baby I shot you down, bang bang) Vês-me entre músicas trocadas, entre bebidas servidas, entre goles e passas. Moves-te entre o nevoeiro do teu fumo, visão enublada, pensamento perdido na ficção de tu e eu. Fazes tudo de olhos baixos e rectos, imóveis, com um autómato. E de repente fitas-me com o teu olhar prepotente, disparando uma baforada de fumo na minha direcção, sorrindo e piscando-me o olho entre sopros. Riposto com o meu olhar de escárnio, a ti, robô que te afundaste em mim, abanando a cabeça de desdém. Como esqueces que te esqueci, como te desprezo, como ignoras que te perdeste entre o meu canal memória, como não revejo o que fomos... como me enojas. Como estou imune ao veneno de ti! E tu não sabes!

(Cuidado. Tu ainda não tomaste o meu antídoto!)

Comentários

Anónimo disse…
Visualizei completamente a cena descrita no texto. lindo! E como tens razão...
Pura ignorância quando não conseguem ver o óbvio, quando não percebem que o seu desejo se torna asqueroso perante nós.
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Anónimo disse…
é estranho comentar aqui, pq é totalmente diferente do belogue! nc prestei mt atençao a esta tua faceta, tao diferente da outra.. por mt boa q tb seja, vou ter saudades das tuas "tiradas" (grrr.. palavra mais q feia, mas descreve o q quero!).
obrigada pela força. o teu comentario ha uns meses ajudou m mm... qd td a gente dizia: "na faculdade é pior", "vais ver q t safas", tu fste sincera e admitiste q efectivamente ctg foi mm puxado. a mim chateia m mm baixar notas pq niquices idiotas... o meu problema agr é quimica grrr mas o q mais me custou foi portugues! tive optima nota nos 3 anos e agora por causa de escolhas multiplas estupidas q td a gente soube fazer (menos eu, pois claro), vou ter uma nota linda. e tb n vou descansar ate chegar dia n sei qts de setembro (antes dos exames acabarem, n quero saber datas concretas! uma coisa de cada vez...).
vou estar insuportavel ate la, mas p mais q m digam q n vale a pena, nao adianta...
saudaçoes blogcoisas, menina das multiplas pastilhas na carteira (a tua sorte é q eu n curto nd pastilhas =p)
AR disse…
espero mesmo que a gente encontre uma cura para a doença.
:)*
Fátima disse…
têm mesmo a mania Elici, Shelyra, e Joaninha... mas eles acabam por bater ca cabeça na parede...;) AR, eu acho que tenho a cura deste post...mas o sujeito
não...eheh =D
Renata, estar de mau humor é fixe! Não é preciso estar sempre disposto a aturar os outros. eu cá não me disponho a isso. =D