Cogito ergo sum
Eu sou a busca interminável de mim mesma. O retalho da manta que ainda não foi acabada de tricotar. Uma pegada que o mar ainda não apagou. Um momento num rol de momentos. Um curto circuito num apagão eterno. Eu sou a chama olímpica a ser levada para um não sei-onde. Eu sou um presente-passado sem saber o que fazer hoje ou amanhã. Eu sou esta mão que busca sem descanso a tua, porque hoje só tu me podes valer. Porque o teu sorriso faz-me esquecer outros sorrisos que traziam escondidos lágrimas. Eu sou um palhaço triste num circo pobre. Um pierrot com a lágrima pintada no canto do olho. Eu sou esta cobaia que se experimenta. Mas não percebo nada de poções, de frascos em laboratórios estranhos. Preciso de ti, sejas tu quem fores. E descubro que não vale a pena fazer planos sobre a forma que os frascos ou os líquidos vão ter. O futuro não existe.É uma palavra fictícia como a vida. E há coisas tão estranhas neste circo pobre que parecem magia. A forma como as coincidências, ou que entendemos por coincidências, acontecem.Como se a vida fosse uma enorme lição e nós estivéssemos constantemente a escrever a mesma frase no quadro. Não sei se já aprendi a minha lição. sinto-me reviver muitas vezes a mesma cena, o que talvez signifique que fiz muitas vezes o mesmo erro e não posso evoluir. E sinto-me vítima de mim mesma. Nesse circo pobre em que ainda não sei amestrar feras. E sinto que ainda não aprendi a lição e a lutar com o lado lunar. Porque é ele que nos cega e nos oprime. E nos faz continuar neste circo, a representar todas as noites para uma plateia invisível. Representaremos também enquanto dormimos?Que nos quererá dizer o inconsciente?Que nos quererá dizer a energia do mundo que não conseguimos ouvir?Que erro grotesco estaremos a cometer?Porque pensamos em ser felizes e não o somos?Porque arrastamos um saco pesado de culpas e de amores mal vividos. O amor não é um "amo-te". Amor é generosidade. Interiorizei isto e descobri que faz todo o sentido. É uma totalidade em que embatemos mas não conseguimos penetrar. Porque o passado nos amarra como correntes. Porque não sabemos amar senão na escravidão do outro. Porque amar faz todo o sentido. Mas amar sem correntes. Porque só o amor nos liberta, um amor sem pressas e sem razões. Um amor sem de falta esperas em que possamos ver no outro uma energia própria que não queremos gastar mas alimentar.
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