apenas isso

do alto da sapiência que só a longevidade de uma vintena de anos pode dar, tinha a arrogância de ser melhor que o mundo corporativo que desde cedo conheci. sentia-me apenas mais uma, perdida, entre a máquina de café e a maior televisão daquele piso. tantas vezes caras conhecidas e desconhecidas se detiveram para espreitar o que eu seguia na televisão, o meu trabalho, aquela caixinha mágica. faziam-me perguntas, falávamos de filmes, de séries. 'até amanhã', diziam, quando eu ficava até mais tarde, entretida com a minha caixinha mágica, formiguinha no inverno. agora sento-me ao lado da janela e em vez de uma televisão, tenho três televisões nas minhas costas e outra na minha secretária. ainda mais pequena me sinto, com todas as caras que irrompem daquele quadradinho e roubam todas as atenções, mais que o meu metro e meio de gente pode alguma vez despertar. mas hoje, já era tarde, e alguém com preocupações muito maiores que a minha pequena pessoa, parou e perguntou-me se estava tudo bem, porque é que eu estava ali àquela hora. e eu corei, olhei em volta, 'está a falar comigo!'. agradeci e disse que me ia embora dali a nada, que estava tudo bem. e senti-me um bocadinho maior, importante, naquele mundo que é um mar de cabeças e computadores, televisões e máquinas de café.

Comentários

Marta disse…
Que bom voltar a ler-te :)