Acordo ortográfico

Não faço acordos. Nem sequer ortográficos. Coloco os c's que eu bem entender e os pontos nos i's. Com os pés bem assentes na terra distribuo acentos que acentuem a intensidade de tudo o que sou. Construo as minhas histórias abusando de vírgulas porque não pretendo deparar-me com os bandidos dos pontos finais, salteadores de alegrias nos caminhos das frases. Aqui e ali abro aspas, e vou bebendo de algumas experiências. Há dias em que apenas me apetece mudar de parágrafo mas noutras ocasiões altero tamanho e tipo de letra. Uso artigo indefinido porque em mim não há definição, e sou o sujeito e às vezes o complemento. Mas apraz-me ainda mais a magia do verbo. Sonhar, andar, pular. Se fosse um substantivo seria comum ou abstrato. Não sou de substantivos próprios, e em mim há sempre um quê de inapropriado. Gostaria de fechar a minha vida apenas com um ponto de exclamação mas, até lá, tenho pontos de interrogação para tudo. Não sou voz passiva. Em mim vivem metáforas e onomatopeias. Sou sujeito singular e prefiro os meus verbos no presente. Sou uma reticência. Já que a frase da minha vida ainda tem muito para contar.

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