a serra
são dias-tempestade, os segundos, os minutos, as horas, são árvores enraivecidas pelo vento que me fustigam sem piedade, batem os minutos como ramos enlouquecidos de girar. e eu resisto, continuo como quando na aldeia dos meus pais cortava as silvas com uma navalha para passar, no caminho da serra que tanto gostava de fazer a pé. sozinha. eu bato-me, mas como naqueles passeios entre silvas que em miúda chamava de silvias não me livro sem sangue, os braços crivados de cortes e arranhões, eu bato-me mas um dia não haverá pele para mais feridas. e aí ficarei a meio do caminho, a capela no alto da serra ao longe, a paz tão longe e tão perto, e eu estirada sem pele nem força que resista
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