O sino da minha aldeia

Entre o redemoinho de lençóis e os cabelos desalinhados, soava ao longe, meio abafado pelos cobertores, algo estranhamente familiar. Um som repetitivo e urgente, que me levou do suave torpor de uma manhã de domingo a mil e uma recordações com aquela banda sonora. De repente, percebi. Estava numa cidade do interior, e aquilo era o sino da igreja a tocar. Tão parecido ao som do sino da minha aldeia. Uma melodia que é como uma segunda língua, para quem cresceu ao ritmo daquele toque: a hora certa, a meia hora, as trindades ao anoitecer, a missa de domingo, a festa e a procissão, um casamento, o toque "a rebate" (um som agudo e aflitivo, que se ouve quando há fogo perto do povo e a chegar às casas, para pedir a ajuda de todos), e o toque que nos trespassa a todos de tristeza, o dobrar do sino, quando morre alguém da aldeia. Seja por que motivo for, o sino é o chamamento que todos reúne, para o bem e para o mal. A voz de um povo, que nunca esquecemos - e que ao primeiro toque, nos leva logo a abrir a janela, para ouvir melhor e perceber ao que chama. Para saber se os nossos precisam de nós.

Comentários

Gustavo Gomes disse…
Bonito texto Realmente cada toque do sino tinha a sua função
Fátima disse…
Obrigada tio! São sons que ficam na nossa história. ❤️