Não importa


Não importa de onde vim ou para onde vou, ou os pequenos nadas pelos quais discuti, as vezes em que me senti impotente ou chorei, em que me desiludi e achei que nada valia a pena.
Não importa muito pois não? Nada. Tudo. Porque quando regresso aquela casa com o portão azul, na rua onde todas as casas têm portões azuis – mas nenhuma é igual à minha – tenho a mais absoluta certeza de um amor tão constante como a passagem do tempo, tão incondicional que não há palavras que o possam capturar ou fotografias que o possam imortalizar.
Os sorrisos no rosto da minha mãe e a o abraço do meu pai ensinam-me que são as pessoas que fazem de qualquer lugar a nossa casa. E os meus passos são inabaláveis na certeza de querer sempre voltar a este regaço, a este palácio onde sou princesa de todas as histórias e onde o carinho reconstrói todas as minhas (im)perfeições e fraquezas. 
Aos olhos dos meus pais, cada pequena conquista minha é uma chegada à lua e, a cada queda, há sempre onde me possa amparar. Tal como nas memórias, onde a minha mãe me tratava o joelho esfolado depois da escola e passava noites ao meu lado quando estava doente.
As recordações sucedem-se em tons de sépia e oiço as discussões familiares, as risadas, as conversas em tom demasiado alto à mesa do jantar e aquela secretária onde o meu pai se sentava comigo pacientemente, a explicar-me matemática, mesmo que eu nunca me tivesse apaixonado pelos números e tivesse a cabeça perdida por entre as palavras e as nuvens.
A minha família talvez seja como muitas outras, talvez menor do que muitas, talvez mais barulhenta que outras ou, quiçá, ainda mais louca, mas foi nela que descobri alguns dos maiores tesouros do mundo. Não me envergonho de nada do que herdei deles e da forma como me fizeram ser como sou. 
A minha mãe é aquela mulher alegre e faladora, um pouco hiponcondríaca, mas com um coração maior do que o mundo e que não vê maldade em falar o que pensa. O meu pai, mais calado, é conhecido por todos na nossa vila e uma das pessoas mais inteligentes que conheço.
É um amor para sempre entre nós. Mesmo que um dia eles já não estejam aqui. Mesmo que eu já não esteja aqui. Não importa o que os outros pensem de mim, haverá sempre um lugar que capta a minha verdadeira essência e a verdadeira pureza do amor.  E, por tudo isso, talvez não possa parar de agradecer a este mundo que os colocou no meu caminho.
Continuaremos a caminhar enquanto pudermos. Não importa mais nada, pois não?

Comentários

Fátima disse…
Já tinha saudades de te ler :)