Estórias soltas I

(Invento estórias por trás de olhares perdidos com que me cruzo)

Uma casa abandonada, uma estrada esquecida. O meu lugar favorito em todo o mundo, de onde um dia quis a vida arrancar-me. Uma história de heranças levou-me até Paris, em busca de um tio desaparecido, tantas vezes chorado no olhar da avó. Odiei aquela missão desde o início, até que de repente o descobri. Foi amor à primeira vista. Um prédio singelo, de vasos à janela. Ali encontrei um novo abrigo. O meu bairro preferido de Paris, onde um dia te vi. Espreitava à janela as pessoas que passavam, apressadas, na esperança de o ver. A avó dizia que devia viver por ali. E então, vi-te, de sorriso simples e olhos brilhantes. Quis chamar-te, dizer-te olá, convidar-te para um café com um "sou nova aqui, não conheço ninguém"! Mas a voz não obedeceu. Deixo-me ficar, de olhos tontos de gente a correr. E é então que o vejo, também. Sozinho, de olhar apagado. Com três curiosas companhias. Um gato, um pato e um cão eram os melhores amigos de um homem que o mundo esqueceu.
(Tal como a mim.)

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