Fast food de emoções perdidas
Percorres veloz a área de restauração do centro comercial, olhas os semblantes em volta. Sem sorriso, olhares sem vida, devoram num hambúrguer emoções perdidas. A crise não levou apenas o nosso dinheiro, mas também a poesia nos nossos olhos. Quantos sonhos adiados, quantos braços rendidos ao trabalho sem amor, ao emprego sem vocação, ao expediente sem fim? Pedes mais uma sobremesa, as bolachas estão com desconto no continente, enrolas-te no sofá de casa com o filme de sábado à tarde e descobres a solidão no fundo de um balde de pipocas. Fazes zapping na TV e a Europa avisa: os teus governantes enganam-te, vem aí mais austeridade. Adormeces no sofá, a sonhar com aquele curso se guionismo que gostavas de fazer e aquela viagem a Londres que já adiaste tantas vezes. "Para o ano, talvez".
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