O Inverno acabou. os glaciares derretaram vagamente, em silêncio. Os cristais desfizeram-se com o estalido de partir pratos. a camada estalou e todos voltaram a ser quem realmente eram. Deixaram sair de si o sol, por cada poro e foram verdadeiros. O mar aqueceu e todos mergulharam nas despreocupações de um Verão quente e sonhador. Os casacos de incertezas eram rasgados com força num turbilhão de lágrimas de quem já não tem medo de chorar. Afinal, cada um de nós nasce de um raio de sol numa noite de Verão. Porque é sempre Verão, na lareira de dois corpos que se unem e forma estrelas e pó de estrelas. E tudo o mais era apenas isso. Tudo o mais. Assim se passou naqueles dias em que as vozes se juntaram e berraram contra tudo. Em que o tempo se esqueceu de marchar e correr e andar e tudo o que fizesse mover. Dizem que o tempo engordou nesses dias enquanto que o medo, esse teve de fugir como o diabo da cruz. Porque agora só a loucura reinava na terra. A loucura e de gritar de dentro para fora. De amar como uma diabólica experiência. Era Verão e caminhava-se descaço sem magoar os pés. O inverno decidiu então voltar. E toda a gente se esqueceu da essência. Vestiram-na como roupa interior mas abafaram-se de casacos. Nada mais foi igual. O rio secou. E as lágrimas também. Tudo era agora uma feliz aparência. E mais ninguém amava de verdade. E toda a gente tinha voltado a errar mais do que o normal. Tantos erros. Somos uma massa de erros, argamassa de tempo e fuligem. O tempo emagreceu, andou muito rápido, tão rápido que já não deixava ver o céu e a luz. Que nos fechou num calabouço escuro. Era inverno figurado. Amor fingido ou amor AMADO.

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