Janela

Eu sou uma janela sobre o mar, muitos olham-me e limitam-se a apreciar a vista. Alguns têm medo do que possam descobrir e não se atrevem a dar uma espreitadela. Depois há os que imaginam os segredos que se escondem, para lá da rebentação das ondas, lá longe no horizonte. Esses que têm a certeza que há mais do que mar e marés. Abrem essa janela que eu sou e ficam ali como se o tempo tivesse, subitamente, parado. A brisa doce vai soprando ao longe como um sorriso e a janela torna-se indiscreta, os aromas do mar tornam-se paixão. É aí que se levanta um vendaval que sucede à brisa. Aí mostro outras janelas que existem em mim, que o vento abre de par em par. Com vista sobre o tempo infinito, os sonhos ou outra maravilha qualquer. Junto ao mar os sonhos não ganham raízes, vão-se transformando na areia molhada, naquela praia, a que se avista ainda desta minha pequena janela. Onde há sempre sol no horizonte. Mesmo em dias de chuva, quando as gotas molham a minha janela e sou obrigada a fechá-la com força. Tanta força e sem cerimónias. Assim é esta minha janela, com vista sobre o mar.

Comentários

Rica Balula disse…
Importante é não entalar os dedos quando fechas a janela. :)