Game over, os meus olhos perdiam o jogo e as letras do livro ficavam búzias, já estava quase em Alcântara quando me deixei adormecer no comboio. Em menos de cinco minutos comecei a sonhar, mas nada de absurdo e surreal como de costume, era um sonho antigo, daqueles cheios de pó da gaveta mais escondida em mim. O meu inconsciente, poderoso omnisciente com requintes de malvadez, levou-me de volta aos meus quinze anos, à minha mais antiga teimosia. 'E se tentasses novamente?', perguntava ele, perverso. E se tentasse novamente, perguntei-me eu, já num limbo entre o sonho e o comboio, olhos a estremecer do burburinho da chegada ao Cais do Sodré. E se? Se voltasse a estudar e começasse tudo de novo? Uma nova profissão, que lidasse com pessoas reais, em vez de cabeças de computador e pés apressados no corredor, corpos presentes em cadeiras azuis almofadadas. Quando cheguei ao elevador cumprimentei os meus 'colegas' com um bom dia, devolveram-me silêncios de telemóvel, apressados em ligar o wifi da empresa, abrir o email e começar a responder antes que chegassem as nove e um da manhã. Hora e meia volvida e continuo com essa ideia a fazer-me comichão na nuca. E se?...
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