"Porque sempre vivi isolado, Sofia, durante a escola, o liceu, a faculdade, o hospital, o casamento, isolado com os meus livros por demais lidos e os meus poemas pretensiosos e vulgares, a ânsia de escrever e o torturante pânico de não ser capaz, de não lograr traduzir em palavras o que me apetecia berrar aos ouvidos dos outros e que era Eu estou aqui, reparem em mim que estou aqui, Oiçam-me até ao meu silêncio e compreendam-me, mas não se pode compreender, Sofia, o que não se diz, as pessoas olham, não entendem, vão embora, conversam umas com as outras longe de nós, esquecidas de nós, e sentimo-nos como as praias em Outubro, desabitadas de pés, que o mar assalta e deixa no baloiçar inerte de um braço desmaiado".

António Lobo Antunes

Comentários

Anónimo disse…
oh..... quem ainda não se sentiu assim?
Susana disse…
Texto lindo!!

Quase tão bom como os teus textos ;)

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AR disse…
very
very
beautiful*