Fotografia
E ali, no centro de uma luz pálida e despreocupada de fim de tarde encetei a mais árdua e difícil de todas as tarefas a que já me propus. Aventurei-me dentro, nos caminhos inóspitos das varandas e jardins secretos da memória e da alma, como ouvi dizer. Comigo levei apenas´o olhar de que me sirvo para guardar o mundo em fragmentos. Esses flashes de tempo que resistem. Esses cheiros e sorrisos presos num fio do obscurantismo do pensamento.Faço força em recordar e aventuro-me assim pelo templo das preciosas memórias. Frutos suspensos de uma árvore reluzente. Alguns frutos caiem apodrecidos. Esquecimento. Outros permanecem intocáveis nas linhas da tecelagem do tempo. Brilhando, ainda que proibidos. Já diz o poema: o que foi não volta a ser. Poderá ser semelhante mas jamais igual. Na vida não há repetido como nas fotografias em que as cópias miméticas do ser se massificam. E aí, congeladas mais do que para sempre (a não ser que as rasgue um golpe de fúria ou outro qualquer) os sorrisos do que já foi e não mais será, dum qualquer segundo de um qualquer solstício ou equinócio que passou. Bom ou mau. Amargo ou doce. Náquele efémero instante.
Comentários
Gostei muito do texto =)