Ainda me lembro
Ainda me lembro do teu sorriso de água, a desabar em cascata sobre todas as coisas. Ainda me lembro de cada prenda, surpresa, gesto ou qualquer coisa especial que tenhas dito. Ainda ardem os ouvidos das palavras que me disseste, como se estivesses a pronunciá-las agora e pudesse sentir o bafo quente da tua boca. Ainda te digo mais de tudo o que me lembro e que, perto ou longe, não posso esquecer. Peço-te que te lembres e saibas que vou guardar comigo cada pedacinho de ti, solto em mim. Afinal tu és já parte indissolúvel de mim. Tu és estrela, eu Lua, Tu íman, eu metal. Tu és mar, eu areia da praia. Cruzamo-nos sem cessar. Somos parte do mesmo fio embaraçado, aquele que se tenta e não se consegue desfazer o nó. Diria que somos um nó cego, mas de cega não posso ter nada porque me perco a olhar para ti, e cada vez que olho quero olhar mais e mais, como se fosses todo o horizonte e toda a alegria. Eu parto, ou por outra e não querendo adivinhar o futuro, suponho que parto ou partirei (devo usar o futuro), mas a minha boca irá continuar a saber a fruta da época, como dizem. Fruta da nossa época, que espero seja longa, frutuosa e feliz. Que o fio não se desate, que o amor não se gaste ou avarie. Perto e longe, os teus braços ainda, porque os imaginarei. E a imaginação e o coração sabem mais de mim e conhecem-te, como nunca antes conheci ninguém. E depois de tudo espero poder dizer: "espera por mim ao pé da fonte" ou "estou quase a chegar". E o coração a rebentar de não poder mais. E dizer ainda ao teu ouvido "Eu ainda me lembro". Não te esqueces?
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