"Então o rapaz... já foi?". "Sim, foi". Tornas tudo mais fácil pai, falas como se o "rapaz" (mais velho que tu), tivesse partido numa simples viagem, e tu chegaste quando o carro desaparecia na curva. Sei bem que odeias despedidas. A mãe não, a mãe chega antes da viagem, chora e não quer deixar ninguém partir. Os vossos amigos vão desaparecendo, para a mãe são pequenas facadas, para ti é como dormir todos os dias, natural. Os teus olhos têm tanto por chorar lá dentro. Cortes a carne e engoles vorazmente a notícia que te dei, a dor empurrada para o infinito de ti, depois do almoço esquecida. Como num filme de Spielberg, somos um grande grupo a fugir dos dinossauros, até que vamos sendo apanhados um a um, "continua, eu não posso mais, foge!".
Às vezes gostava de fugir com os dinossauros, para não ver os outros a ser engolidos.

Comentários

Anónimo disse…
precisas de um abraço?
Marta disse…
custa tt não saber até quando os que mais amamos vão continuar a conseguir escapar e enganar os dinossauros... Custa imaginar que nada está nas nossas mão. peças deste enorme tabuleiro de xadrez em que elaboramos estratégias de vida. Mas no final não é nosso o verdadeiro cheque mate