Mais uma vez
Mais uma vez eu era mais um daqueles bonecos de madeira, que nunca chegam a ser bonecos de verdade, os que depois de tanto se brincar se esquece e se deixa no canto mais escuro da sala. Tal e qual a professora que punha os meninos mal comportados de castigo, virados de costas no canto da sala. Senti uma estalada estalar-me na face, mesmo que não fosse de verdade. Tal como eu, naquele canto perdido do meu próprio quarto-mundo. Eu devia deixar de me preocupar, de te proteger e amanhecer em ti para que não te falte sol. Porque ontem adormeci de chuva, na mente e no rosto. Mas tu não deste por isso. Não te preocupaste contigo nem com os outros que se preocupam contigo. E pior que isso, esqueceste-me e desiludiste-me. E hoje apenas sou um boneco de madeira, preso nas linhas de ser um fantoche que não quer subir para o palco. Há demasiada luz por aí. Prefiro ficar no meu canto escuro, mastigando as horas e os factos com o relógio do meu coração apertando a cada hora que passa. Tic tac interminável de mim.
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