Ser Só, Só Ser... Azul.

"Tem-se prazer em dizer que não a esses apetites e a esses desejos que constituem a maior parte da nossa personalidade, ou do que supomos que a seja; prazer em pôr de parte a esperança; prazer em não ter nada e mesmo em não ser nada, para nos sentirmos pura e simplesmente existir."

Marguerite Yourcenar, "O quê? A eternidade"


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Abraço o luar e deixo-me embalar pelo sussurro das estrelas... O vento beija-me a pele nua e o mar toca uma melodia suave, calma, que me acaricia a alma e me envolve na sua tranquilidade. Estendo-me no fino areal e rendo-me ao murmúrio das ondas, ao brilho da Lua sobre o mar… Fecho os olhos, deixo os meus lábios tocarem-se... parece que qualquer coisa me pede que me abandone ao não-ser, que esqueça por momentos o horizonte humano, a estação onde um estonteante corropio de corpos se arrastam como autómatos, de rosto inexpressivo, olhar perdido e alma vazia deixam os sonhos de um passado pela ganância e a ambição de um presente e por um nada de emoções e sensações (recordações!) num futuro… Reconheço a voz que me pede reflexão e recolhimento interior… vem do mar… Num resplandecente e brilhante azul como o mais belo dos sonhos e quimeras, essa voz pede-me silêncio – quer encontrar a minha alma. Apenas ela entenderá as palavras que a espuma branca das ondas traz do coração da Natureza, que bate na beleza ímpar e singular dos corais, na vida do berço do mundo, nos confins do profundo oceano, que esconde o tesouro do segredo do milagre da vida. A maresia torna-se o meu perfume enquanto me perco no horizonte, azul, azul… o meu espírito abraça o imenso mar, e voo pela harmonia das suas palavras até ao lugar em que o mar toca o céu, em que o sonho se pinta em tons celestes. Una com o sonho caio no sono, e SOU de novo. Despida do Homem, da ansiedade, da frustração, da desilusão, da farsa, da ganância e da inquietação, SOU… (Quem me dera ser sempre azul, e não ser Homem.)

Comentários

Marta disse…
Quem dera podermo-nos entregar sempre a estas sensações e conseguirmos achar palavras tão doces e tão frescas. Senti-me como se estivesse a teu lado nesse areal com este texto.
Marta disse…
È bom ser azul de vez em quando...ser leve como pena em vez de existirmos pesadamente.
Fátima disse…
às vezes gosto de fechar os olhos e sorver apenas a natureza...sou com ela, e liberto-me da angústia humana... sabe bem!
Anónimo disse…
o texto que cheira a mar e sensibilidade tb =)
Lembra-me madredeus : "quando avistei ao longe o mar, sem querer deixei-me ali ficar..."

sê, azul ou não, sê!

Gostei! =)
AR disse…
red hot + blues

:)

sonho ou realidade?
fogo...ou água?

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