Cartas ao meu tio - II
Estou deitada na minha cama em Aldeia Velha, aquele leito aconchegador e onde me sinto melhor, o berço da minha vida. Passou o último dia de festas e de baile, amanhã regressa o silêncio e a vagarosa rotina da aldeia. Passaram as primeiras festas sem ti, tio; sentámo-nos à mesa com uma das cadeiras vazias, para sempre tua.
Na passada sexta-feira cheguei à aldeia de madrugada, ainda decorria o baile. Pela primeira vez não tive vontade de correr para perto da maltinha, pedir uma bebida e desatar a dançar com eles. Respirei o ar da aldeia, senti as paredes de pedra com as mãos e pensei em ti. São estas paredes, a calçada e as ruas estreitinhas que guardam as melhores recordações de família: o dia em que os meus tios me ensinaram a andar de bicicleta, as correrias pela aldeia com os primos, os passeios em família nos dias de festa, a procissão no dia 24 de agosto e a capeia no dia 25. Este ano, passámos pelos dias de festa vestidos de preto, sorrindo sem alegria, procurando vagamente a felicidade que sentíamos quando todos chegavam de França, de Lisboa ou do Porto, e nos reuníamos em casa da minha mãe. Aos poucos, dia após dia, íamos encontrando na nossa união a força que nos fará seguir em frente.
Dói muito saber que não iremos mais conversar sobre música ou escrita, mas gravo para sempre a tua voz e os teus ensinamentos. Tenho de aprender a tocar acordeão, como prometi.
Até sempre, tio.
Na passada sexta-feira cheguei à aldeia de madrugada, ainda decorria o baile. Pela primeira vez não tive vontade de correr para perto da maltinha, pedir uma bebida e desatar a dançar com eles. Respirei o ar da aldeia, senti as paredes de pedra com as mãos e pensei em ti. São estas paredes, a calçada e as ruas estreitinhas que guardam as melhores recordações de família: o dia em que os meus tios me ensinaram a andar de bicicleta, as correrias pela aldeia com os primos, os passeios em família nos dias de festa, a procissão no dia 24 de agosto e a capeia no dia 25. Este ano, passámos pelos dias de festa vestidos de preto, sorrindo sem alegria, procurando vagamente a felicidade que sentíamos quando todos chegavam de França, de Lisboa ou do Porto, e nos reuníamos em casa da minha mãe. Aos poucos, dia após dia, íamos encontrando na nossa união a força que nos fará seguir em frente.
Dói muito saber que não iremos mais conversar sobre música ou escrita, mas gravo para sempre a tua voz e os teus ensinamentos. Tenho de aprender a tocar acordeão, como prometi.
Até sempre, tio.
Comentários
Os teus textos são lindíssimos por serem tão sinceros e vindos directos do coração.
Abraço forte prima