Vezes infinito
A história repete-se mais uma vez, ano passa e eu entro em depressão nos primeiros dias de dezembro. Não, não é o drama da passagem de ano, isso para mim não é nada, o meu drama é o dia anterior, de 30 para 31 a minha mãe dá-me os parabéns e lembra-se "há x anos roubaram o carro ao teu tio, ainda vivíamos todos no apartamento, vimos tudo a acontecer assim de repente, da varanda, ele ainda foi atrás do ladrão de pantufas, e então rebentaram-se-me as águas". Só me esperavam para a primeira semana de janeiro, mas a minha tia ganhou a aposta e eu ainda consegui nascer no ano do primeiro bebé proveta em Portugal, ganhei bilhete para entrar na escola com 5 anos e a garantia de ser sempre a mais nova, onde quer que fosse. Ninguém faz anos na passagem de ano! Pois não, mas eu faço. Eu e o meu primo-irmão - em Espanha diz-se primo-hermano, disse-me a minha amiga tradutora -, que nasceu oito anos antes de mim mas seu avô quis que nascesse a 1 de janeiro como ele, para celebrarem juntos num dia de festa lá da terra.
E então entro em depressão nos primeiros dias de dezembro, acordem-me quando chegarmos a janeiro e eu não souber responder que idade tenho, desde os 25 que deixei de contar e de perceber a diferença. Que mais dá se são 26, 27 ou 28, está tudo na mesma e nada muda - tudo menos o meu cabelo, que se rende todos os dias à genética e vai somando cabelos brancos, bem espetadinhos no alto da cabeça, comme il faut.
Já está, troco mensagens com a melhor amiga a dizer que faço 28 anos e ainda não fiz nada de jeito, o meu avô dizia "posso não valer nada mas a minha presença vale muito", e será que a minha vale alguma coisa? No escritório sei que não vale nada, ninguém é insubstituível. Somos todos números e o meu nome é pouco importante, mesmo que seja o mais sonante num edifício de oito andares - Casanova, pel'amor de deus, é o melhor apelido que existe.
E agora vou enterrar a cabeça na almofada e pensar que estou quase a passar a idade fatídica para a malta das artes, os 27. Vá. Ao menos isso.
E então entro em depressão nos primeiros dias de dezembro, acordem-me quando chegarmos a janeiro e eu não souber responder que idade tenho, desde os 25 que deixei de contar e de perceber a diferença. Que mais dá se são 26, 27 ou 28, está tudo na mesma e nada muda - tudo menos o meu cabelo, que se rende todos os dias à genética e vai somando cabelos brancos, bem espetadinhos no alto da cabeça, comme il faut.
Já está, troco mensagens com a melhor amiga a dizer que faço 28 anos e ainda não fiz nada de jeito, o meu avô dizia "posso não valer nada mas a minha presença vale muito", e será que a minha vale alguma coisa? No escritório sei que não vale nada, ninguém é insubstituível. Somos todos números e o meu nome é pouco importante, mesmo que seja o mais sonante num edifício de oito andares - Casanova, pel'amor de deus, é o melhor apelido que existe.
E agora vou enterrar a cabeça na almofada e pensar que estou quase a passar a idade fatídica para a malta das artes, os 27. Vá. Ao menos isso.
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