runaway train, II
lembro-me que quando parti naquele comboio percebi que não tinha amado, que não sabia o que era amor. ele tinha descido as escadas da estação sem sequer esperar que o comboio partisse, sem correr atrás, como fazia sempre. lembro-me de como amaldiçoei todos os encontros, todos os telefonemas, todas as mensagens e todo o tempo que perdi em algo que, afinal, nem valia uma despedida na estação digna de filme. nem um típico nunca te esquecerei entre lágrimas ou um beijo arrebatador, final, dramático. nada que arrancasse um par de lágrimas à espectadora mais lamechas. durante anos fugi de qualquer coisa que pudesse virar outra decepcionante despedida, tão pouco fílmica. porque amar é cinema. é apaixonar-se num segundo, é todo o mundo seres tu, é ter a vida nos teus beijos e viver só para rir contigo. amar não é descer as escadas da estação e esperar pelo próximo autocarro, é correr atrás e ficar até o comboio partir. ou então não é amor.
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