Fruta da época
Hoje apeteces-me. Não sei se é de mim, este egoísmo de não te querer esquecer e de não parar de te lembrar. Apeteces-me como fruta da época, para te comer em pedaços. Para te provar uma e outra vez sem me cansar do teu sabor. Ainda me sabes a mar, amor, vida e desejo. Mesmo que te tenhas esquecido de outros tempos e de outras palavras. Eu não me esqueci de nada e continuo a trazer-te em mim, uma pérola preciosa que roubei ao mundo e não quero mostrar a mais ninguém. Quero-te só para mim. E hoje apetece-me olhar-te e mostrar-te quem és, quem somos. Para relembrares os anos que vêm dançando à frente dos nosssos olhos. Mas somos iguais a antes, ainda te beijo e sinto os pés fugirem do chão e o meu coração querer saltar do peito. Querer saltar e correr para outras margens, ser mais que coração, ser rio, ser verão, ser primavera. Nada mudou e no entanto nada está igual. Quero voltar ao tempo dos segredos. Agora conto-te eu. Agora contas tu. Crianças apaixonadas num mundo de adultos. Eu cá não quero crescer. Sou um dos miúdos perdidos do Peter Pan. Neste mundo quem somos sem as nossas ilusões? Apenas muros e paredes que apetece esmurrar até sangrar. Porque a realidade dói. Deixa-me ficar a viver este sonho que tem telhados, janelas para arejar e flores para pendurar na varanda. Hoje apeteces-me como se tivesse uma fome (in) controlável. Não consigo parar de te escrever, és a vírgula das minhas frases, o meu ponto de exclamação e espero que entre nós não haja um único ponto final. E se houver, que não tenha parágrafos, para te conseguir trazer de volta. És o acento que acentua tudo na minha vida. Há quem ponha alguns pontos de interrogação a um amor assim. Eu dou-lhes as reticências e um único hífen. Aquele com que se escreve amo-te.
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