Céu
Abrimos os lábios e banhámo-nos de céu envolto nas nuvens. Era uma suave tarde de início de Primavera e as tuas mãos, aves voando pelo meu rosto. A tua língua, tinta da china, pintando a brisa leve de um murmúrio de amor. A tua língua, aninhada no meu ouvido contando uma história. Numa mais, desde essa essa tarde de Março eu deixei de abraçar os poentes e saudar as madrugadas. Enredei-me nalgumas teias e labirintos e esperei. Ficou tão escuro, que me banhei de noite em vez de luz, remorso em vez de céu. Eu prometi que te contava mas a vergonha impediu-me de pintar estrelas. Ficou só o ceu, cada vez mais negro e eu a tiritar de frio. Os teus braços em brasa vão aparecer mais uma vez no fogo dos teus lábios e vou sussurrar baixinho de mim para mim: desculpa. O céu irá clarear num gerúndio com ar de canção. Irei olhar-te e sussurrar mais alto para que, então, me escutes. Amando. Porque eu amei, amo e amarei. As pombras brancas que se desprendem das tuas mãos hão-de acariciar o meu coração. E esquecerei que por momentos me esqueci que o céu era assim, tão mas tão azul.
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