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E todas as vozes ecoavam de novo ao sabor daquela canção. Mordia-se a lingua de vez quando mas ninguém acreditava. Depois o ritmo de todas as coisas acelerava e rodávamos dentro de nós mesmo, baratas desatinadas num burburinho em roda e sem fim. Dizia-se a verdade e o medo ia saindo, e aquela voz e aquela melodia tocavam de fundo sem parar. Foi a música que me inspirou, que brotou de cantos de mim desconhecidos e me trouxe de volta a ti escrita. Que me abriu os olhos em vendaval e me disse para não esperar mais. Chovia a potes mas eu saí pela porta dentro. Para dentro do mundo. Para dentro de ti. Mergulhei na silhueta da tua janela de lua e sufoquei-me de ti. Só a estranha melodia pintava todo o tempo. Em nós tudo nasceu. Em mim nada morreu. Escrevo sem dó e martelo furiosamente o piano de teclas que me arrasta sem volta para ti. O mundo tão estranho, tão estranho a tocar só para mim. Maestra de mim talvez, mas mexendo-me ao ritmo do mundo. A música da chuva ressoando nas vidraças e o assobio do vento alongando as pausas. O tilintar dos copos e das facas. O arrastar pesado de móveis. O elevador. Os estalidos da porta. O cansaço. As olheiras. As corridas. O tempo sem tempo. A porta fechada. Mergulhar dentro. A piscina de mim. O mundo. E a estranha melodia. E a escrita regressando lentamente ao cacifo dos sonhos. Dentro de mim. Fora de mim quando escrito. Plim Plim. A água. Patipati. Trauteiam. O chilrear das aves. O último acorde. Sair da porta para dentro. E todas as vozes ao ritmo daquela canção. Seria de amor?
Comentários
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Bjinho*
Boa semana
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